Toda vez que falamos em Teatro na Escola carregamos uma teoria didático-pedagógica, do por que teatro, a tendência natural da criança de “jogar”, etc. e tal. Benefícios, objetivos, etc. e tal, etc. e tal, etc. e tal. Mas…
Anterior ao teatro, a música e a dança são manifestações primeiras do homem. As Artes plásticas já estavam ali nas cavernas, representando CENAS do cotidiano.
Portanto, estas afirmações, já constam do nosso acervo de conhecimento. O homem e as suas manifestações incluem, e sempre incluíram a música, a dança, as artes plásticas, o teatro.
No entanto, os desenhos das cavernas primitivas, eram registros espontâneos, uma forma de comunicação, um registro. As danças e as músicas, primeiramente de origem religiosa, são as formas naturais de expressar este sentimento, inerente ao ser humano.
Quando falamos de Teatro, hoje, na Escola, como também muitas vezes da Literatura, esquecemos a perspectiva da obra de Arte. À obra de Arte não pertencem todo este acervo didático-pedagógico que, aniquila a manifestação artística.
A obra de Arte é suficiente, em si mesma.
Um espetáculo de teatro, um livro, uma música, uma escultura, contêm em si mesmo toda a carga artística necessária. Não há que se explicar o quadro, que se explica por si mesmo; não que se explicar a música, que se explica por si mesma; não que se explicar o texto literário, que se explica por si mesmo.
A Arte e a Escola, na verdade, não se conhecem, porque, também, não é função, apenas da escola, colocar a criança em convívio com as diversas manifestações artísticas. Infelizmente as manifestações artísticas, de gosto mais depuradas estão accessíveis apenas a Classe A.
Dizemos que a criança não vai ao teatro, que precisamos criar a plateia de amanhã… E a música? E a dança? E as Artes Plásticas? Na escola na maioria das vezes a música não existe, a dança muito menos e por Artes Plásticas entenda-se aula de artesanato.
O teatro entrou na escola, durante algum tempo, e ali ainda perdura moribundo até hoje, por uma deformação do mercado. Descobriu-se uma forma de resistir economicamente ao fato do brasileiro não ir ao teatro. Tanto que é muito mais fácil viver do Teatro Infantil do que do Teatro para adultos. Da mesma forma que na Literatura. Autores de textos adultos que vivem de seu ofício se contam pelos dedos, os autores de textos infantis, que vivem de seu ofício, são em número bem significativo, tanto que editorialmente é o segmento que mais cresce – a literatura infanto-juvenil. Ela é obrigatória na escola. Ela garante um mercado aos editores, desde 1973 LDB. Mas será que esta política, aparentemente pujante, torna as crianças ledoras? Das quatorze livrarias especializadas em literatura infanto-juvenil, apenas uma sobrevive no Rio de Janeiro. Publique-se um livro, de autor conhecido, coloque-o, se conseguir, em todas as livrarias e veja o quanto vende. A adoção do livro na escola, as vendas ao FDE e FNDE, e Cantinhos de Leitura é que mantêm as editoras e os autores.
O leitor autônomo, criança, não existe
Livros são adotados, abordados e abortados. O “aproveitamento do livro de leitura extraclasse” acaba com o prazer da leitura.
Arte não é para ser compartimentada, ou determinada pelos famosos “temas transversais”. Arte é a expressão mais intensa e profunda do ser humano e tenho certeza que os “temas transversais” não estão lá.
Cuidado! O teatro caminha por aí. Todos estes Projetos Escolares de Teatro não formaram, até hoje, nenhuma plateia, muito pelo contrário. Há projetos “canastras” e decentes. Mas mesmo os projetos decentes, se vendem pela ótica que a escola solicita, com conceitos, didatismos, pieguismos… “hei de vencer” e por aí vai e não pela perspectiva da obra de Arte.
Portanto, nos parece que a abordagem da Obra de Arte junto à criança está, na maioria dos movimentos, equivocada. E o trabalho a ser feito é, aparentemente muito mais simples… fazer com que a criança descubra, por si mesma, o prazer que pode encontrar na manifestação artística, seja como realizador ou como espectador.
Mas para que isto aconteça é necessário que haja uma vontade política que torne a Arte accessível às crianças e aos adultos, não só de Copacabana à Barra, mas ao longo da linha do trem, principalmente. E Arte, não é só teatro… é necessário, também que deixemos de olhar para o nosso umbigo. Este é um movimento integral.
Além disto, o artista não pode ceder à instituição escola. A escola existe para conservar e transmitir saberes e conhecimentos. Esta é a sua função, por mais que “atirada” seja a sua metodologia. O fim é o vestibular. Uma vez ouvi o dono de um dos maiores colégios do Rio de Janeiro dizer numa reunião de professores: “até a sexta série, a gente forma, a partir da sétima, deforma, para atender à expectativa dos pais em relação ao vestibular”.
A Arte existe para criar novas visões do mundo, romper e transgredir saberes antológicos e conhecimentos, renovar, criar, inventar, a caminho do futuro e por isto não pode ceder ao conservadorismo e didatismo a que a escola reduz as manifestações artísticas. Portanto toda a relação da Escola com o teatro, com a Literatura e todas as manifestações artísticas, precisam ser revistas.
Não é necessário pesquisa. Não somos um país ledor, não vamos ao Teatro, portanto vimos equivocados caminhando pelo menos há 27 anos, por caminhos que não têm fim.
Carlos Augusto Nazareth
Diretor de Teatro