O Sítio do Picapau Amarelo agrada aos pais e avós, mas as crianças não reconhecem os personagens mostrados na peça.
Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 09.04.1994

 

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Monteiro Lobato em videoclipe

Há muito tempo atrás, na parte da estante hoje ocupada por bruxonildas e vampirinhos, ficavam os livros de Monteiro Lobato. Os mais afortunados ganhavam a coleção verde de capa dura, mas os volumes avulsos de capa colorida, também com ilustrações de Leblanc, podiam ser comprados nas livrarias. De um modo ou de outro há muito tempo atrás todas as crianças eram íntimas dos habitantes do Sítio do Picapau Amarelo. Caídos no esquecimento ou substituídos por outros heróis ou netos de Dona Benta ressurgiram nos anos 80, com força total, na tela da TV. A trilha sonora de abertura ganhou música de Gilberto Gil e Pedrinho, Narizinho e Emília voltaram a ser figuras conhecidas da garotada.

Agora, no palco, Sítio do Picapau Amarelo, com texto e direção de Paulo César Oliveira, perde a grande oportunidade de apresentar a novíssima geração, que não leu os livros, nem assistiu ao seriado, “o mundo encantado que Monteiro Lobato criou”, como diz o samba-enredo na abertura da peça.

Supondo que o público conhece todas a s reinações de Narizinho e a s memórias da Emília, Paulo César arma o seu texto como um enorme videoclipe, onde quase tudo ameaça acontecer. Depois da longa abertura musical, que antecede o segundo número musical, Dona Benta promete contar uma história, mas a turma embarca para uma viagem ao céu, onde Emília entrega a Tia Anastácia o Visconde, morto, para que ela faça um novinho em folha. Ao novo Visconde, Emilia dita suas memórias e embarca para Hollywood, mas lá não chega (no original, a boneca se encontra com Shirley Temple, mas dessa ninguém se lembraria mesmo). Corta para Narizinho experimentando seu vestido de casamento com o Príncipe Escamado na casa de Dona Aranha. O espelho que quebrado pela “lindeza” do vestido aparece antes do espelho inteiro. Este fala com Emília ao lado de Branca de Neve. Corta para Os Doze Trabalhos de Hércules, mais um pouco de Memórias de Emília e finalmente à volta do samba-exaltação.

Com esse enredo truncado, lembrado perfeitamente apenas pelos pais e das mães presentes ao teatro (que aplaudem em cena aberta a atriz Jacira Sampaio no papel da Tia Anastácia, o mesmo que fazia na TV), resta ao diretor misturar seus personagens com interferências musicais que – estas sim – agradam em cheio as crianças. O Rock dos planetas, de Eduardo Dusek, e o Samba de breque da Emília, de Evandro Mesquita, mais a s coreografias de Maria Lucia Priolli – apenas para estes números – são pontos positivos do espetáculo. Também de grande empatia com o público infantil, Susana Abranches é Emilia no auge de sua vitalidade. O fato da atriz estar representando um papel que já foi seu na série televisiva.

Sítio do Picapau Amarelo está em cartaz no Teatro Villa-Lobos, aos sábados e domingos, às 17h, Ingressos a CR$ 3.000.

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