Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 20.03.2015

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Circo Mínimo seduz com varas de bambu

Em Simbad, o Navegante, dois clowns dão um show de versatilidade para contar uma história viril de desafios e conquistas

A história de Simbad, em As Mil e Uma Noites, é movimentada, cheia de aventuras e de conquista de riquezas, simbolizando a busca do homem por autoconfiança, coragem e iniciativa. Nesta ótima adaptação da companhia Circo Mínimo, Simbad, o Navegante, em cartaz no Sesc Pompeia, em São Paulo, tudo isso está muito bem retratado e representado. O personagem é irrequieto, empreendedor, apaixonado pelo desconhecido. A base para o texto foi a recente e premiada tradução, direta do árabe para o português, feita por Mamede Mustafa Jarouche.

A diretora Carla Candiotto, valendo-se inteligentemente de uma linguagem mista – teatro, dança, contação de histórias e circo –, acertou mais uma vez no ritmo e no clima de encantamento que fisga a plateia desde o primeiro minuto. Colocou em cena dois personagens que se completam, o mais esperto e mais inteligente (Rodrigo Matheus, fundador do Circo Mínimo, e responsável pela adaptação, ao lado da própria Carla e de Alexandre Roit) e o que se deixa enganar e, por isso mesmo, mais brincalhão e atrapalhado (Ronaldo Aguiar, ator convidado).  São dois clowns, dois bufões, dois típicos arquétipos da arte da palhaçaria.

Ronaldo Aguiar, por ficar com a parte do palhaço mais frágil e, por isso, o mais vitimizado, ganha muito a simpatia das crianças da plateia, desde os primeiros minutos da peça. Tem um carisma e um ‘molejo’ histriônico muito adequados para o papel.  Rodrigo Matheus, como o palhaço que vive enganando o outro para se dar bem, se sai melhor nos números físicos e acrobáticos, graças à sua experiência de 27 anos à frente do Circo Mínimo.

O texto joga o tempo todo com o recurso da repetição de falas, frases e quase bordões, como, por exemplo, em todas as vezes em que os personagens vividos por Ronaldo Aguiar têm de morrer em cena. Isso funciona demais com as crianças, reforçando conceitos, auxiliando o ritmo da narrativa. Na sessão a que assisti, foi lindo ver tanta criança soltando gargalhadas espontâneas, de olhos estatelados no palco, encantadas por essas brincadeiras feitas de repetições.

Mas, pedindo licença aos talentos inegáveis do iluminador Wagner Freire, da coreógrafa Ziza Brisola, do cenógrafo Marco Lima, do figurinista Olintho Malaquias e da compositora de trilhas Aline Meyer (todos eles em excelentes momentos), o que mais chama a atenção neste espetáculo, fazendo dele antológico e inesquecível, é a estrutura móvel de bambu, de 4 metros de altura, criada por Rodrigo Matheus, inspirada na obra do grupo Nós de Bambu, de Brasília, e supervisionada pelo artista Marcelo Rio Branco.

Você não vai acreditar na versatilidade do material. As varas de bambus impregnam o espetáculo de uma inacreditável agilidade, transformando-se em baleias, monstros, vestidos, chapéus, barcos, navios, pássaros, serpentes, trapézios, gangorras e tantos outros elementos importantes para o desenvolvimento dos sete contos narrados pelos dois atores. A plasticidade do espetáculo, graças a essa verdadeira ‘farra dos bambus’, é a grande chave para colocar ‘Simbad, o Navegante’ (convidado a integrar a programação do Festival Internacional de Circo do SESC) desde já entre os melhores da nova temporada de teatro infantil em São Paulo. Não perca por nada. (Ah, e não deixe de reparar também nas luminárias suspensas no palco, com suas incríveis cúpulas feitas de escorredores de macarrão!)

Serviço

Teatro Sesc Pompeia
Rua Clelia, 93
Tel.: (11) 3871-7700
Sábados e domingos, sempre ao meio-dia
Até 21 de abril (terça, feriado de Tiradentes)
Ingressos R$ 17 (inteira) e R$ 8,50 (meia)