Os atores contam, narram e descrevem as situações

Os efeitos de luz com os tapetes que “andam” são incríveis. Fotos: Renato Mangolin

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 11.11.2016

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Tapetes que falam e contam histórias encantadoras

Grupo carioca mostra, com o imperdível Shtim Shlim, como é possível casar contação de histórias com dramaturgia

Já mencionei aqui algumas vezes o quanto a simbologia do tapete mágico ou tapete voador me encanta e me faz fazer mil viagens. Quando o teatro se aproveita bem da imaginação desencadeada por esse objeto mítico, eu me rendo completamente como crítico e como público. Pois acabo de conhecer um grupo carioca, que existe desde 1998, e se chama Os Tapetes Contadores de Histórias. Eles se utilizam de tapetes de outros objetos de tecido como cenários para contar suas histórias, populares ou autorais, de origens diversas. Fiquei apaixonado pelo trabalho deles.

A peça que vi se chama Shtim Shlim – O Sonho de um Aprendiz e está em cartaz em São Paulo, na Caixa Cultural, até 27 de novembro. Faltam poucas sessões e você não pode perder com sua família. O espetáculo tem uma carreira muito bem-sucedida. Estreou no Rio em 2014 e já viajou por muitas capitais e cidades brasileiras. Recebeu o selo de ‘Espetáculo Recomendado pelo Cepetin (Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil)’ e os troféus de melhor espetáculo e melhor cenografia pelo 10.º Prêmio Zilka Sallaberry. Tudo muito merecido.

A contação de histórias existe há milênios, nas mais variadas culturas do mundo. No Brasil, é relativamente recente que suas técnicas sejam aliadas à dramaturgia, resultando em espetáculos teatrais muito bem acabados. É o caso deste Shtim Shlim. O que os atores fazem o tempo todo é teatro narrativo, eles contam, narram, descrevem as situações. São excelentes contadores, mas também ótimos atores. Alternam-se todos nos mesmos papeis com incrível desenvoltura, movimentando a cena e surpreendendo o público o tempo todo. Isso fica facilitado porque o texto é muito bom, rico, pleno de metáforas poéticas e inteligentes, bem construído, com ritmo. Fisga a todos pelo seu teor de aventura. Acompanhar os passos aventureiros do protagonista vira um lance legal, um trunfo do espetáculo.

Quanto à cenografia, não me admira que tenha sido premiada. Os tapetes e todos os tecidos são encantadores, vistosos, bem aproveitados. Panos que falam. Também são bastante criativos os painéis iluminados, contendo desenhos de peixe, cobra, galgo, pomba e águia. O espetáculo tem ainda um atrativo extra: é itinerante. O público deixa os sapatos na entrada da primeira porta cenográfica e circula de meias, pisando ritualisticamente nos tapetes mágicos e se acomodando em almofadas belíssimas. Teatro como ritual, teatro que anda. Isso é magnífico, quando bem feito. E o grupo carioca conseguiu nos proporcionar uma pérola. Os efeitos de luz também são incríveis. O elenco não tem medo, por exemplo, de assustar a plateia, nos trechos de maior suspense da narrativa. Em uma cena, chegam a empurrar as crianças, que soltam gritinhos de terror. Se isso fosse feito de um jeito descuidado, sem delicadezas, poderia ser um desastre. Não é.

Um pouco da sinopse, pra você não chegar lá sem saber de nada da história: Quando criança, Shtim Shlim tem um sonho estranho e premonitório: ele vê o sol entrando pela manga direita de sua camisa e a lua entrando pela esquerda. O pai interpreta o sonho do menino, dizendo que ele vai se casar duas vezes. (É divertida a brincadeira que os atores fazem com o público, para que a gente também saiba quando vezes vamos casar nesta vida!). O garoto cresce com essa visão na cabeça e, quando jovem, decide partir em busca de conhecimento com um velho mago que ensina “o tudo e a magia acima do tudo”, mas que mata seus discípulos após o teste final. Ele terá de ser esperto para vencer esse e outros entraves em sua aventura em busca de autoconhecimento.

Serviço

Caixa Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111 – Centro – São Paulo
Telefone: (11) 3321-4400
Sábado, domingo e feriado (15 de novembro, às 16 horas. Ingressos: Grátis (distribuição de senhas 30 minutos antes)
Temporada:  Até 20 de novembro de 2016