O elenco do musical conta a lenda de Sete Quedas de maneira bastante movimentada. Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.06.1992

 

 

Barra

Uma abordagem inovadora

Por mais mítica que seja este onde a cada dia surge um guru específico – para astros e estrelas de TV, para cantoras e até para o pessoal do Planalto -, parece que a magia e o feitiço ficou mesmo por conta das nações africanas. Restou aos índios o crédito pelas lendas e mistérios, didaticamente inseridas em algum livro escolar ou, pior ainda, nos compêndios de História do Brasil, onde invariavelmente dava-se um jeito de dizer que “o silvícola é indolente”, para justificar qualquer atrocidade colonizadora que viesse no parágrafo seguinte.

Sete Quedas – A Lenda e o Sonho, em cartaz no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, é uma inovadora abordagem do tema, que substitui personagens contemplativos, tão comuns nas representações do nosso folclore, por vigorosos elementos, como se espera da própria natureza.

O texto de Maria Bati chega ao palco sem ranço, para contar a lenda das Sete Quedas através das preocupações escolares do menino João com a “droga” do dever de casa. Guiado pela Lua, João chega à aldeia dos Guaranis, para conhecer a história da Grande Serpente que captura a filha querida do Deus Sol, provocando uma batalha de morte, onde a serpente vencida é aprisionada nas rochas das cataratas para que não cause mais nenhum mal ao planeta. Mas se um dia as águas cobrirem as rochas, ninguém sabe o que pode acontecer.

A direção de Lucia Coelho traz à cena um interessante e movimentado musical, cuidando tão bem do espetáculo como da interpretação de seus atores. A Lua, vivida por Zezé Polessa, apaixona o público desde a primeira vez que desce de sua escada para dizer que não tem medo de altura, mas de “baixura”. Andréa Dantas, de Serpente, dá a seu personagem malícia e agilidade, sem caricaturar o vilão. O restante do elenco também acompanha o ritmo da direção com bastante desenvoltura, preenchendo todos os espaços do palco.

Sete Quedas – A Lenda e o Sonho tem ainda figurinos e cenários bastante criativos, principalmente na cena final, onde as cataratas muito se assemelham as criadas por Bertolucci para o filme la luna. É a magia do teatro, em sua mais plena representação.

Cotação: 2 estrelas ( bom )