Critica publicada no Jornal da Tarde
Por Alberto Guzik – São Paulo – 1989
Um Molière de altos e baixos, pelo Tapa
O texto foi estreado em 1669, quatro anos antes da morte do autor. Várias das obras-primas de Molière já estavam escritas nessa data: As Preciosas Ridículas, Tartufo, Don Juan. Não é preciso ser um especialista na obra do maior dos gênios da comédia para perceber que Senhor do Porqueiral dificilmente atinge a estatura dessas peças que o antecedem. A trama tem a ver com um parvo de província, a quem a fortuna recém-feita leva a querer um casamento com aristocratas da corte. No entanto, tal é o número de armadilhas em que Porqueiral se vê enredado por mando de sua suposta noiva e do namorado dela, que no fim retorna a sua aldeia sem poder ouvir falar mais no projetado casamento.
Senhor de Porqueiral tem estrutura irregular, mexe com temas de que o autor trata com frequência, mas sem conseguir levá-los às alturas de crítica atingidas por outras obras. Algumas cenas são excelentes, trazem a marca do melhor do dramaturgo. Outros momentos deixam transparecer a pressa com que a comédia foi escrita, por encomenda do rei. A direção de Eduardo Tolentino não conseguiu tornar homogêneo o que é capenga de nascimento. Consequentemente, seu espetáculo sofre de altos e baixos, há passagens resolvidas com brilho, outras com efeito menos satisfatório.
A despeito dessas irregularidades, Senhor de Porqueiral foi posto em cena com a mesma vitalidade e alegria que caracterizamos trabalhos do Tapa. A música original de Luly ganhou inteligente adaptação de Gustavo Kurlat. A cenografia de Juvenal dos Santos recorre ao simbolismo óbvio de uma teia de aranha, mas os figurinos de Lola Tolentino revelam-se como sempre adequados e inventivos. No elenco, Brian Penido, Clara Carvalho, Cassiano Ricardo e Ernani Moraes entregam-se ao desempenho com intensidade e alegria, merecendo elogio que se estende também aos demais atores. O espetáculo certamente ganhará maior desenvoltura e dinamismo no correr da temporada, pois o Tapa sempre burila exautivamente suas criações. Mas desde já Senhor do Porqueiral pode ser visto como exemplo de teatro maduro, feito à serio.
Serviço:
Senhor de Porqueiral, de Molière, Direção de Eduardo Tolentino. Com Brian Penido, Cassiano Ricardo, Clara Carvalho, Ernani Moraes, Gustavo Gurlat, Guilherme Sant’Anna, Jarbas Toledo, Noemi Marinha, Paulo Arapuan Valneci Bolla, Zecarlos Machado. Teatro Aliança Francesa (R. General Jardim, 182 – Tel: 259.0086). Quarta a sábado, 21h; domingo 20h. NCz$ 5,00 (quarta); NCz$ 8,00 (quinta, sexta e domingo); NCz$ 10,00 (sábado)