A peça fala da importância de contar histórias. Fotos: Debora Bolzan

A Sementeira

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 28.10.2016

Barra

O valor de se preservar a memória e contar histórias

‘Sementeira’, em cartaz no CCSP, é um espetáculo simples que estimula crianças e adultos a valorizarem suas lembranças

“A cidade ficou no escuro! As pessoas não conseguiam entender o que estava acontecendo, falavam ao mesmo tempo e ninguém se ouvia: queriam uma solução! No meio de toda aquela confusão, veio até nós um menino e ele trazia nas mãos uma semente. – Hum, o que foi? – Ele quer saber que semente é essa! Ela é tão pequena! Que cor bonita! Hummm… e tem um cheiro bom também! Esta é uma semente da sementeira de histórias! A sementeira é uma grande árvore que vai crescendo dentro da gente, criando raízes. São as histórias que a gente escuta e vive desde quando a gente nasce. E cada vez que floresce na nossa memória uma lembrança, temos vontade de contar pra alguém, como quem entrega uma bela flor ou fruta nascida desta árvore.”

Como não gostar de uma peça que celebra a importância de se contar histórias? O trecho acima talvez seja o que melhor resuma toda a delicadeza do espetáculo Sementeira, em cartaz até o início de novembro no Centro Cultural São Paulo. Dois grupos do ABC paulista – Garagem de Teatro, sediado em Ribeirão Pires, e Pontos de Fiandeiras, sediado em Santo André – juntaram-se e produziram uma peça que alerta para a importância de se preservar a memória. Sabe aquelas montagens em que tudo está correto, todos estão no caminho certo e as escolhas feitas são todas acertadas, mas ainda assim o espetáculo não figura entre os melhores do ano, não ganha prêmios, não arrebata os críticos? Assim é Sementeira.

Há poesia, mas talvez não o suficiente. Há humor e há emoção, mas talvez nem tanto. Há carisma no elenco, mas nada que empolgue muito. Há boas histórias, mas quem sabe não falte justamente o elemento surpresa, o ‘algo mais’ imponderável que faria a diferença. Difícil ficar palpitando sobre o que falta, porque teatro não se faz com receitas prontas de sucesso. O importante é registrar que o espetáculo é bom, fácil de ver, bem-intencionado. E que os dois grupos envolvidos são muito bem preparados e têm em mãos todo o potencial necessário para seguir fazendo esse teatro sério, responsável, comprometido com o passado, com “os quintais de nossas memórias”.

A escolha pela simplicidade em cena é uma chave importante para a qualidade do que se vê em Sementeira. A direção de João Paulo Maranho buscou criatividade em soluções simples, como o uso eloquente de adereços corriqueiros, como argolas (bambolês), cabos de vassouras, lençóis e cordas. Os efeitos de luz são inteligentes e estimulam a fantasia. A música, executada ao vivo, também agrada e encanta. As duas canções finais são bem compostas e deliciosas de se ouvir. “O lugar da imaginação, para onde a criança facilmente se transporta, é o lugar da possibilidade de transcender o tempo e a morte, da afirmação da condição de criador”, diz o diretor, embasado em muitas pesquisas feitas com os dois grupos. “Nessa perspectiva, o espetáculo abarca, além do público infantil, o público adulto que busca resgatar suas histórias juntamente com os atores narradores, refletindo sobre a necessidade urgente em garantir à infância o seu direito a este espaço do sonho, do impossível, do infinito.”

Como não gostar de um espetáculo assim?

Serviço:

Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho
Endereço: Rua Vergueiro, 1.000 – Estação de metrô: Vergueiro, São Paulo
Telefone: (11) 3397-4002
Sábado e domingo às 16 horas
Ingressos: R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia)
No dia 29 de outubro, sábado, o valor do ingresso será no valor de R$ 3,00
Temporada: Até 6 de novembro