Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 29.08.1998

 

Barra

Um ‘tour’ sem pudor pelos musicais 

Seguindo a trilha da dupla de diretores Cininha de Paula e Wolf Maia, craques em musicais, o diretor Carlos Leça, um discípulo atento aos toques dos dois mestres, faz sua estreia para a plateia infantil com Se Preparem… Fadas em Greve, em temporada no Teatro do Leblon. No palco, canto e dança se sobrepõem à história a ser contada à história a ser contada e o que poderia ser um defeito, enfim, é a solução.

O texto de Anna Vacchiano, rico em palavras, com certeza tem mais sabor quando lido. Juntar esse prazer à ação no palco já é outra história e discursiva, trata exatamente do que diz o título. Assim, quando as fadas entram em greve, entram em cena as bruxas, suas naturais antagonistas.

Tudo começa fora de cena, com a passeata das fadas na porta do teatro. Com um figurino que deixa muito a desejar, a classe unida das boazinhas quase afasta o telespectador da sua intenção de assistir ao espetáculo, mas o gospel bem cantado após o protesto faz com que a plateia se anime a entrar.

Lá dentro tudo muda. As fadas se despedem e as bruxas superproduzidas tomam conta do evento. A história é simples: para que o mundo não entre em desequilíbrio com a greve das fadas, as bruxas terão que fazer boas ações. De interessante, é bom notar que elas se fazem de boas com a maior má vontade.

Mas se o enredo é frágil, o movimento no palco é memorável. Carlos Leça faz um tour pelos musicais sem o menor pudor, o que é ótimo, e reproduz para a jovem plateia um pouco de Rock Horror Show, Grease e outros sucessos. Para cenas de ligação, cria algumas coreografias de muito bom gosto, como o círculo das bruxas no fundo do palco que sustenta a ação principal com sapateado bem marcado. O diretor usa também boas gags, como a bruxa Horrorosa, que cada vez que seu nome é usado como adjetivo ela entra em cena para esclarecer: “Horrorosa sou eu”. Humor de bordão, sempre um bom efeito.

As bruxas no palco cantam, dançam e divertem a plateia à vontade. São 16 atores em cena completamente afinados com o espírito do musical. Muito mais do que boas interpretações ou a busca da poesia perdida, esse elenco se entrega ao teatro de entretenimento com entusiasmo invejável. Em destaque também na interpretação, já que no canto e na dança todos são ótimos, Fabiana Valor e sua bruxa cabra da peste.

Na técnica, mais uma vez Marcelo Marques mostra seu toque de mestre. São figurinos divertidos que misturam o quase sado-masô com outras alegorias bem comportadas. Cada mocinha “do mal” tem sua profissão adereçada na roupa: dona de casa, dentista, entre outras. A iluminação de Jayme Bouças divide o palco em planos bem definidos e a direção musical de Wagner Caetano é responsável pelo revival de grandes sucessos no palco. Destacando-se na área, a preparação vocal de Liliane Secco é sempre uma preciosa colaboração para qualquer espetáculo. Se Preparem… Fadas em Greve é um ótimo show de canto e dança. Se cortasse o excesso do texto poderia também ser um espetáculo teatral de igual qualidade.

Cotação: 2 estrelas (Bom)