Eris de Spusa (à esq.), Amauri Ernani e Paula Gianini no Teatro Ipanema: decepção só para quem quer ver teatro.

                                                                                                                                           

Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 31.10.2004

 

 

 

Barra

Entrar ou não entrar no jogo

Sem enredo Se essa Rua fosse Minha funciona para as crianças que participam

Se essa Rua Fosse Minha – Espetáculo de Brincar em cartaz no Teatro Ipanema exibe um trabalho sério de resgate das cantigas e brincadeiras infantis desenvolvido por Inami Custódio Pinto e Paula Giannini. A proposta é fazer um espetáculo interativo com crianças. Na verdade, Se essa Rua Fosse Minha se resume a uma seleção de músicas e brincadeiras apresentadas ao público, que é convidado a subir ao palco participar.

Não podemos chamar o espetáculo de teatro, se formos analisá-lo a partir de uma concepção strictu sensu de teatro, já que não há trama, nem conflito, nem estrutura de  narrativa dramática. Há sim, teatralidade na forma como as brincadeiras e as cantigas são apresentadas pelos atores Paula Giannini, Amauri Ernani e Eris de Souza, que cantam, dançam e fazem uma sessão de animação musical”.

Se essa Rua fosse Minha é uma proposta para a praça pública, onde a participação nos jogos e brincadeiras seria mais adequada. Pois, como não há trama, o interesse d a criançada fica entre o desejo de participar e a timidez de subir ao palco. Nos momentos das brincadeiras conjuntas entre atores e público, aqueles que permanecem na plateia ficam excluídos, pois não há história para acompanhar.

A trilha sonora, de Ângelo Esmanhotto é de qualidade, com belos arranjos para as tradicionais cantigas infantis. A direção de Amauri Ernani fica limitada pela própria proposta do espetáculo, mas  tem um desenho cênico claro, limpo, com boa movimentação.

Simples, o espetáculo exibe uma estética adequada a sua proposta. Os figurinos, de Tony Lucas remetem aos folguedos do interior do país, sem se prender a uma referência mais específica a qualquer região, o que vai ao encontro da brasilidade sem regionalismos que o espetáculo busca. E que o próprio cenário reforça, quando se utiliza do brasileiríssimo verde e amarelo como fundo. A luz de Driano Fabrício e Paula Giannini marca os movimentos do espetáculo.

Trata-se de um típico trabalho de grupo de pesquisa, dentro de um projeto chamado Brincando com o Folclore, que eles mesmos chamam de teatro-arte-educação-música. Há um leve tom didático, principalmente quando, ao final, um dos atores oferece algumas receitas de confecção de brinquedos, a partir do aproveitamento de coisas simples existentes em casa.

O trabalho do grupo é de arte-educação e apresentado no palco. Tem atores-animadores à vontade, em cena, em sua tarefa de trazer e levar crianças ao palco, brincar, entreter. Não há uma construção consistente de personagens, nem mesmo os próprios atores constroem com completude seus personagens.

As crianças sobem ao palco, gostam e aproveitam mais do que as que ficam na plateia. Por isso, às vezes, a apresentação se torna lenta e cansativa para os que assistem.

É uma tentativa da utilização da narrativa oral cênica, do contar no palco, ao invés de mostrar. Só que quando vamos ao teatro queremos experenciar as emoções que só o  teatro, com suas características únicas, tem e que o tornam único, oferecendo uma experiência ímpar ao espectador. 

Se essa Rua fosse Minha envereda por outros caminhos que não o da essência teatral, com um resultado satisfatório, mas que deixa insatisfeita a parte da plateia que foi ver teatro.