Crítica publicada no Jornal O Dia
Por Armindo Blanco – Rio de Janeiro – 28.05.1992

Barra

De Volta à Magia

Felizes as crianças. Elas ainda podem encontrar, no teatro, a magia que cada vez menos é oferecida aos adultos. Então, o que fazem os adultos? Pretextam a necessidade de levar os filhos ao teatro e aproveitam para reencontrar, de carona, a magia perdida, o tempo da inocência. Domingo passado, crianças e adultos se acotovelavam em grandes doses praticamente iguais, para ver Sapatinhos Vermelhos, conto de Andersen teatralizado por Denise Crispun (Teatro Cacilda Becker, Catete, 338, sab. e dom., às 17h, ingressos a Cr$ 5mil). E, no final, todo mundo aplaudiu de pé: as crianças, por se terem encantado com a história da pequena Nina que, satisfeito seu desejo de possuir o par de sapatinhos vermelhos que refulgiam na vitrine de uma loja, fica condenada a dançar o tempo todo pelo resto da vida e se envolve em fantásticas aventuras para se libertar dessa servidão –  ela se mistura com gnomos, uma rainha de copas trapaceira que, por dá cá aquela palha, mandava decepar cabeças, indômitos nadadores, um prestimoso aviador e até uma sereia cansada de ser estátua – e os adultos, igualmente cativados, porque o espetáculo é bonito, repousante e agradável, de tão caprichado. Sem falar nas belíssimas atrizes/bailarinas, como Andrea Maciel, que faz a sereia, e Débora Secco, 12 anos, já vista em novelas – Mico Preto, Perigosas Peruas – e agora tirando de letra a sua Nina, que a obriga a dançar, cantar e representar. O diretor Beto Brown tem a delicadeza de um fino artesão; e os figurinos de Ruy Cortes fazem lembrar um álbum de cores, contribuindo para despertar ou desenvolver o prazer de olhar.