Bonecos dividem o palco com os autores da Companhia dos Bufões na peça Romeu e Julieta

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 27.01.1996

 

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Encenação se perde em jogo de equívocos

As montagens teatrais dedicadas ao público infantil em cartaz, salvo algum grande engano, parecem seguir apenas dois modelos: autores intimamente ligados à produção como mais um integrante da companhia, e companhias mais ou menos estáveis que recriam clássicos para, a jovem plateia. Romeu e Julieta da Cia de Bufões é um desses casos. No entanto, ao contrário de outras produções que escolheram as comédias de Shakespeare para seu público, os Bufões se arriscaram na mais cruel das tragédias. Uma ideia inovadora, mas nem por isso, ausente de concessões…

Dirigida e adaptada por Ângelo Faria Turcci, a montagem tenta suavizar a trama com o recurso de contar uma história dentro da outra, através de uma trupe de atores que resolve encenar como e onde pode, Romeu e Julieta. A escolha da estética tipicamente brasileira / nordestina, com seu teatro de rua, bonecos rústicos contracenando com os atores da fictícia companhia, é a surpresa do espetáculo.

O texto entremeando a linguagem coloquial, com o que deveria ser o original, chega truncando à plateia. Atores principais, coringando diversos personagens, com apenas alguns adereços a mais no figurino, confundem o espectador. O mesmo se dá nas cenas de amor entre Romeu e Julieta, ora feita pelos atores, ora pelo ator manipulando apenas um dos bonecos que contracenam com o personagem. Romeu e Julieta estão em cena, mas o beijo apaixonado é entre ator e títere. A necessidade de adequar o tema ao público cria cenas interessantes de suspense. Mas a edição do texto para que não ultrapasse o tempo regulamentar convencionado para o teatro infantil dilui as tramas paralelas colocando em foco a ação que antecede o desfecho.

Ainda para suavizar o enredo, as cantigas de roda pontuam o espetáculo. A morte dos amantes de Verona vem acompanhada de uma versão de “acorda Maria bonita, levanta, vem tomar café” com os respectivos nomes dos personagens. Humor cruel, que evidência os atalhos da direção.

Apesar do jogo de equívocos, a encenação de Turcci, não é desprovida de elementos atraentes que, se bem realizados, alcançariam seus objetivos. A ousadia de montar uma tragédia no teatro para crianças usando a arte popular brasileira, a inserção de títeres na montagem, e a música e efeitos sonoros feitos ao vivo revelam as boas intenções do autor e diretor. Com o exercício da encenação, a montagem deve ganhar ritmo e dinâmica que se traduzirá no palco do jeito que merece.