Em espetáculo emocionante, a Cia de Atores de Laura revê os relacionamentos humanos.
Foto de Niza Simões


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 27.05.1995

 

Barra

Verdades bem-humoradas

A Companhia de Teatro Atores de Laura, responsável pelas montagens A Entrevista e Cartão de Embarque, leva ao palco, desta vez, sem dúvida nenhuma, seu espetáculo mais emocionante.

Romeu e Isolda, com texto da própria companhia e dramaturgia de Daniel Herz, ultrapassa a fronteira do que vem sendo chamado de Teatro Adolescente e fala para um público de qualquer idade. Abordando o tema universal da dificuldade das relações amorosas e as ciladas em que o ser humano se enreda na procura do par perfeito, o espetáculo tem como grande trunfo à exposição das verdades mais íntimas com muito humor e em situações ridículas.

No palco, todos os personagens masculinos são Romeus, assim como os femininos são Isoldas. As equações, porém, não se completam apenas em pares convencionais. Em cena, como na vida, Romeus também procuram Romeus, valendo o mesmo para as Isoldas. Mesmo seguindo uma história pouco linear, as tramas desenvolvem-se em ritmo preciso, permitindo ao espectador acompanhar o que acontece e ao mesmo tempo identificar-se com o que vê. Em cenários familiares – um restaurante natural onde se bebe muita vodca, o banco de um ônibus que vem do interior, um palco onde acontece um teste para uma peça de época ou no inusitado programa de TV Love Love Love – ocorrem situações que os espectadores já viveram pelo menos uma vez na vida, embora cada um acredite que não aconteceu a mais ninguém.

Os diretores Daniel Herz e Suzana Kruger criaram um espetáculo afinado nos mínimos detalhes. O tempo usado nas passagens de cena e a generosidade para com o elenco na composição de seus personagens conferem à encenação um acabamento de muito bom gosto. Também muito inspirado, Aurélio de Simoni cria para o espetáculo uma luz que, em delicados movimentos, sublinha a ação.

A Companhia de Atores de Laura, além de se destacar pela unidade de trabalho, revela atores em performances elaboradas, entre eles Ana Paula Secco, engraçadíssima na menininha que sonha em dançar no Rio de Janeiro, ou Charles Fricks, como o rapaz que tem um romance relâmpago com a mãe do amigo, ou Ilana Pogrebinski, que vive a moça cuja prioridade é casar com um homem que só coma comida natural, ou ainda Alexandre Teles, na pele do baixinho perdedor, que consegue um final feliz capaz de lavar a alma da plateia.

Sem tornar-se uma espécie e manual de autoajuda, o espetáculo toca em pontos vitais e absurdamente verdadeiros da personalidade humana, convidando a plateia, sem muita cerimônia, para que ria de si mesma. Um convite que se revela irresistível.

Romeu e Isolda está em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, de quinta-feira a sábado (21h) e aos domingos (20h), a R$ 10 (quinta e domingo) e R$ 12 (sexta e sábado).

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)