Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 29.05.2005
Roda Saia Gira Vida: Interação palco-plateia acontece durante toda a montagem e se destaca como um dos pontos fortes, mas espetáculo é irregular
Agitação e brincadeira que nem sempre acertam o foco
O espetáculo Roda Saia Gira Vida em cartaz na Fundição Progresso, integra a mostra comemorativa dos 18 anos do grupo Teatro de Anônimo: Na montagem, os artistas utilizam técnicas circenses como o malabarismo e a acrobacia, além das típicas brincadeiras dos palhaços para se comunicar com o público infantil.
Roda Saia Gira Vida é composto por uma colagem de quadros, em que os atores utilizam pouquíssimas palavras. Logo no começo da peça, quando a trupe mambembe entra em cena pela parte de trás das arquibancadas, acontecem pequenos diálogos entre parte do elenco e a plateia – recurso muito apreciado pelas crianças, que gostam da sensação de estar participando do espetáculo. Na verdade, a interação palco plateia acontece durante toda a montagem, o que é, sem dúvida, um dos pontos fortes do Teatro de Anônimo.
Envolvimento das crianças é constante
Mas, de forma geral, o espetáculo é irregular. Os primeiros momentos, em que todos os artistas estão em cena, é bastante confuso: não há propriamente uma cena, e sim, uma grande agitação no palco. São várias brincadeiras que se perdem pela falta de foco da direção nas diferentes situações encenadas pelos atores. Outros quadros, como o da mulher barbada e o do domador de leões, estão melhor estruturados, favorecendo o envolvimento das crianças com que acontece no palco.
O elenco também é heterogêneo. Regina Oliveira e Maria Angélica Gomes, que fazem os números de acrobacia – ótimos por sinal, principalmente nos momentos finais do espetáculo – parecem não se sentir tão a vontade nas passagens cômicas, enquanto Shirley Britto, em suas diferentes aparições no palco, da a impressão de ser uma daquelas artistas que nasceram com o dom de fazer o público rir. Márcio Libar e João Carlos Artigos formam boa dupla de palhaços, mas, individualmente, Artigos tem presença mais marcante em cena. Não por acaso, suas piadas são as que conseguem provocar mais risos entre a garotada.
O cenário de Elcio Pugliese, a iluminação de André Luiz AIvim, e os figurinos, do próprio grupo, todos bem despojados, estão de acordo com o clima circense do espetáculo que não exige nenhum tipo de sofisticação. A competente preparação técnica para os números aéreos, de Maria Delizier, pode ser percebida no ótimo desempenho das duas atrizes acrobatas em cena.
A música é uma atração a parte no espetáculo. Paulino Dias (percussão), Cristiane Cotrim (cavaquinho), Pedro Mazzillo (violão), Pedro Pamplona (saxofone e flauta), Roberto de Santa Marta (bandolim) e Tiago Queiroz (sax), interpretam com graça e competência antigos sucessos da música brasileira, além de fazer a trilha incidental e de arriscar pequenas participações na montagem.
Talvez falte a Roda Saia Gira Vida uma direção mais atuante. Mesmo assim, o Teatro de Anônimo consegue divertir as crianças durante praticamente toda a sua apresentação.