Cena do espetáculo: figurinos ajudam a confundir as crianças

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 25.06.2005 

 

 

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A Roda da História: Diretor e autor falha, na tentativa de modernizar e tornar agradável tema complexo 

Confusões na trajetória do homem 

A Roda da História, em cartaz no Teatro SESI, pretende revelar as crianças a trajetória do ser humano, desde a criação do universo até o surgimento do Império Romano. Uma proposta ousada do autor e diretor Ângelo Faria Turci, principalmente se levarmos em conta que os acontecimentos deste vasto período histórico ainda são praticamente desconhecidos pelo público infantil.

Segundo informações contidas no release de divulgação, a grande preocupação da Cia. de Bufões foi a realização de um espetáculo dinâmico, que evitasse o didatismo inerente ao tema abordado. Para isso, o diretor teria recorrido a elementos como a música ao vivo, a animação de bonecos e os números circenses, que dariam um tom moderno à cena. E essas duas tentativas, de tornar mais agradável e menos didático um tema que é complexo para as crianças; e de fazer uma encenação moderna, comprometem seriamente A Roda da História, espetáculo em que a mistura de diferentes linguagens artísticas torna-se bastante confusa para o público.

Essa confusão está presente em praticamente todos os componentes da montagem,
como exemplifica o figurino de Pedro Lacerda. Composto por um traje básico (malhas coloridas e botas), ele é complementado por saias, mantos, colares e chapéus, de acordo com a época em que se desenvolve cada cena. E es­se acréscimo de adereços so­bre a roupa básica dos bufões acaba deixando o público em dúvida sobre a identidade dos diferentes personagens que desfilam pelo palco. A direção musical de Marco Aureh também é bastante confusa, utilizando cortes repentinos de um ritmo musical para outro, sem nenhum sentido aparente. Do mesmo modo, a iluminação de César Germano apresenta problemas, abusando das cores fortes e escurecendo o palco.

Gilson Motta consegue um resultado melhor na elaboração do cenário, composto por uma carroça metálica, que serve como espaço para a encenação dos diferentes quadros, e por um varal, onde ficam pendurados os figurinos e adereços que os atores utilizam ao longo do espetáculo. Aqui sim, podemos visualizar um elemento de cena contemporâneo que nos remete de imediato às tradicionais carroças utilizadas pelas trupes mambembes em suas apresentações.

Fragmentação do texto prejudica atores 

O trabalho dos cinco atores da Cia. de Bufões – Patrícia Garcia, Thalita Carauta, Ani­dya Rey, Arthur Malheiro e Humberto Câmara Netto – é prejudicado pela fragmenta­ção do texto e pela superficia­lidade dos personagens. Ape­sar disso, as três atrizes da pe­ça ainda conseguem divertir as crianças em alguns momen­tos do espetáculo.

A impressão que fica é que o diretor procura amenizar a seriedade do tema escolhido por ele, utilizando em A Roda da História um excesso de referências, de cortes e de movimentos, que não ajudam em nada na comunicação do espetáculo com o público infantil.