A Roda da História, em cartaz no Teatro Sesi: proposta do espetáculo é expor a saga da humanidade, do Big Bang à
queda do Império Romano

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 18.06.2005 

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Viagem tumultuada 

Excesso de informações emperra funcionamento de A Roda da História 

A Roda da História, com texto e direção de Ângelo Faria Turci e em cartaz no teatro Sesi, é um espetáculo infantil que se propõe a contar a história da humanidade, do Big Bang até o Império Romano. É muita coisa para narrar em 60 minutos. O teatro, como uma arte de mensagem múltipla, não pode conter um número infindável de informações. A compreensão acaba indo por água abaixo. A opção adotada para driblar tal dificuldade foi transformar o espetáculo numa experiência didática. Assim, os personagens narram os fatos, na maior parte do tempo em posição frontal, como numa aula expositiva – ainda que engraçada.

Com apoio em Ricardo Azevedo, doutor em Letras, pela USP, é preciso lembrar: utilizar textos com o fim de ensinar significa reduzir e descaracterizar a literatura, seja narrativa ou dramática, que, dessa forma, perde a sua essência, cujo foco é a obra de arte. Outro problema de A Roda da História reside na ausência de um conceito a partir do qual as diversas linguagens envolvidas possam entrelaçar-se de forma orgânica.

O cenário de Gilson Motta é uma estrutura metálica indefinida, com uma proposta estética “futurista”, sem nenhuma função cênica. Os figurinos de Pedro Lacerda, de forte apelo visual, têm um tom dark que lembra os povos dos subterrâneos dos filmes de ficção científica e não a bufões, como seria de se esperar. Mesmo quando são usados como roupa-base para a superposição de outros figurinos, continuam interferindo na cena e colaborando para o excesso de informação.

A pretexto de obter climas densos, a luz de César Germano deixa inúmeras vezes os atores no escuro, além de não apresentar uma proposta estética definida.

A movimentação cênica é confusa, acirrada pelo enorme artefato metálico que pretende ser a carroça que traz os bufões para o palco. Carente de desenho cênico, os atores andam pelo palco em percursos aleatórios, sem nenhuma limpeza de movimentos. Com parco preparo vocal, a maioria apresenta dificuldade de dicção e projeção voz, o que torna
inaudíveis alguns trechos do texto.
A proposta de transformação dos atores nos múltiplos personagens também não se define, ora se faz em cena aberta, ora as mudanças são entrevistas no fundo do palco. O que se faz à vista do público tem que ser tomado como cena. E mais uma vez o espetáculo fica a meio do caminho, assim como a proposta de encenação que se inicia como uma farsa, passa pela comédia rasgada, tem momentos de chanchada, chegando mesmo a buscar o riso incessantemente pelo estilo “drag queen”.

A direção musical de Marco Aureh parece tragada pela indefinição de proposta e pelo excesso de informações. Não à toa, recorre aleatoriamente a qualquer ritmo: do forró à cantiga infantil, sem que estas composições, de sua autoria e de Ângelo Turci, surjam a partir de uma necessidade cênica. A Roda da História não chega a levar aos pequenos nem uma aula de História satisfatória nem um espetáculo teatral acabado.