Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 12.12.1999

 

Barra

A festa das máscaras

O Grupo Moitará, criado em 1988, dedicou seus 11 anos de existência à pesquisa da máscara teatral. Nesse difícil caminho de aprendizagem, entre estudos, experimentos e oficinas, dentro e fora do país, eles desenvolveram uma nova técnica para o gênero, que acabou unindo os personagens da commedia dell’arte a tipos característicos do folclore brasileiro. A composição é das melhores e já foi apreciada por público e crítica em 98, no espetáculo Máscara em Cena. Agora, chegou a vez do público infantil.

Rifinfim no Medelim, em temporada no Teatro do Museu da República, é o resultado de exercícios de improvisação das atrizes Mares Nogueira e Érika Rettl, a partir do roteiro do grupo, dirigido por Venício Fonseca. No palco, embora o título sugira uma festa, está a preparação dos personagens Seo Hilário, Pipi e Dona Maria dos Bobes, para os festejos no Medelim, uma cidadezinha do interior, igual a tantas outras, com seus encantos e segredos. Nesse roteiro, o melhor da festa é esperar por ela. Um caso de título que trai a expectativa do público e enredo, mas não em composição de tipos.

As atrizes em cena, na difícil arte de representar com máscaras, gênero que tira qualquer expressão do rosto do ator, se saem muito bem na representação de seus personagens. Marise Nogueira cria Seo Hilário, um velho fanfarrão na medida de um Pantaleão da commedia dell’arte, com toque de humor dos palhaços das Folias de Reis. Seu gestual e voz são possantes adereços para tipo tão simpático. Érika Rettl é mais tímida em Pipi, mas se sai muito bem como Dona Maria dos Bobes, ao mesmo tempo em que manipula alguns bonecos de luva no prólogo do espetáculo.

Nitidamente calcado em exercícios livres em cena, o espetáculo ganha em caracterização na mesma medida em que se perde em tempo de representação. Sem uma história para contar com começo, meio e fim, o prólogo se alonga além do necessário, ficando as intervenções com a plateia, os jogos de adivinhação, por exemplo, um tanto curtos para o gosto do público infantil que embarca na brincadeira. Enfim, um caso de ótimos personagens sem uma trama à altura.

Mas se a história fica só na preparação, a cena é ampliada por excelentes adereços, como os cenários em painéis, idealizados por Venício Fonseca, que ganham múltiplas tonalidades da luz de Djalma Amaral, a trilha escolhida por Wilson Belém, que coloca no palco o repertório do brincante nordestino e a sonorização do espetáculo que é feita ao vivo pelas atrizes com apitos tonante, carrilhão de sementes de pequi, maracás e outros instrumentos musicais alternativos de grande efeito cênico.

Rifinfim no Medelim é a primeira experiência do Moitará com a jovem plateia. Depois de apresentados, espera-se uma feliz convivência e, como em toda nova amizade, é preciso aprender a ganhar um pouquinho e a perder outro tanto. O tal do ajuste, fundamental em qualquer parceria.

Cotação: 2 estrelas (Bom)