Crítica publicada no Jornal Tribuna da Imprensa
Por Pedro Porfírio – Rio de Janeiro – 12.08.1978

Barra 

Todo Dia é Dia

“O teatro infantil é muito mais sério do que o teatro adulto, porque está se formando um público. É o que nós precisamos no Brasil, formar público de teatro. O brasileiro não prestigia o teatro. E através da criança é que é que a gente pode ensinar a gostar. Eu estudei teatro nos Estados Unidos durante um ano e observei que, se várias peças ficam em cartaz durante cinco ou seis anos, é porque esse público, desde criança, fez e viu teatro. Nas escolas primárias, nas universidades, em todo canto tem excelentes teatros”.

Tomo esse desabafo de Ruth de Souza para registrar aqui, como um acontecimento que extrapola o palco, que assume importância bem maior, a estreia hoje de A Revolução dos Patos, uma produção corajosa de Rodrigo Farias Lima que se constitui numa tomada de posição objetiva diante de uma atividade que precisa ser levada definitivamente a sério, o teatro para crianças.

Não cabe, sequer, entrar no mérito da peça, que só verei hoje, na sua estreia. Importa, porém registrar um acontecimento que deveria ser objeto da mais profunda reflexão na medida em que o produtor Farias Lima, ao investir o que tinha e o que não tinha numa produção cujo elenco é encabeçado por Grande Otelo e Ruth de Souza, dois dos mais expressivos profissionais brasileiros.

A produção que marca o início da programação infantil do Teatro dos Quatro é um desafio em si. É a primeira vez que um produtor teatral assume riscos tão sérios numa área que, por si, já é pouco apetitosa do ponto de vista do investimento, inclusive nas produções regulares para adultos. Resta saber se o público e os setores culturais, inclusive os de opinião, vão estar à altura da iniciativa, que pode ser um marco histórico na dolorida trajetória do teatro infantil.

Porque no momento em que se a criança tem diante de si uma produção profissional de qualidade, é dever dos pais e dos que influem intervir para que não perca a oportunidade de vê-la, considerando-se que, até segunda ordem, esta é uma oportunidade rara.

Afinal, não é todo dia que podemos ver num teatro para crianças um elenco com Grande Otelo, Ruth de Souza, Alby Ramos (Prêmio melhor ator do teatro infantil de 1977), Beth Erthal (um excelente currículo, também, atualmente, em Medida de Segurança), Mira Palheta, Olga Renha, Aline Molinari, Eduardo Rodrigues, Roque Bittencourt e Teresa Mascarenhas.