No didático e bem-humorado espetáculo do Palácio do Catete, nobres do Império se misturam a personagens da República

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 12.08.1995

 

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Passeio pela História do Brasil

Alguém descobriu – provavelmente um pesquisador enxerido – que Beverly Hills (bairro das estrelas de Hollywood) tem o estilo arquitetônico mais confuso do planeta, porque seus moradores, vindos do interior do país, logo que ganhavam seu primeiro milhão de dólares, ali mandavam construir um a réplica da casa mais luxuosa de sua cidade.

Guardadas as devidas proporções, o Palácio do Catete – tema do espetáculo teatral Revirando as Páginas do Palácio, com criação e direção de Jorge Crespo e texto de Antonio Carlos Soares – é o que se poderia chamar de uma extravagância de estilos, reunidos num só lugar. Construído de 1858 a 1867 pelo arquiteto alemão Gustav Waehneldt, a pedido do Barão de Nova Friburgo – título dado ao ex-lavrador Antônio Clemente Pinto, um barão do café – o palácio tem história para contar em cada sala de seus aposentos.

Por exigência da baronesa, a casa foi construída de frente para a rua e não no meio do terreno. Seu material de acabamento veio todo da Europa e a decoração de alguns cômodos reproduz um cantinho do mundo no próprio lar – como a sala mourisca e pompeana.

Com as múltiplas vendas do palácio, desde o tempo dos barões até a chegada da República, pouca coisa foi modificada em seu interior. Assim, mesmo exibindo as armas da República na pintura a ouro dos salões principais, prevalece o gosto da baronesa rural na decoração.

O espetáculo de Jorge Crespo, que leva 40 pessoas por vez a percorrerem as salas do Museu da República, é um tour bem-humorado, que conta principalmente à história da casa, ressaltando a época de cada personagem que por lá viveu.

Guiado por um velho zelador, interpretado com especial graça pelo ator Sérgio Machado, o público cumpre alguns rituais de visita a castelos mal-assombrados. Logo na escada, trovões e gargalhadas para criar um clima de suspense. A seguir, os barões de Nova Friburgo dão boas-vindas aos visitantes, numa cena que reproduz exatamente o quadro de Emil Bauch exposto na parede. Daí passamos para a República.

O pulo na história não compromete o entendimento do enredo. A plateia se diverte com a briga dos pintores Décio Villares (vivido pelo ator Claudio Mendes, no melhor do seu humor) e Antônio Parreiras no Salão Amarelo. Também é por lá que Nair de Teffé, interpretada pela atriz Iléia Ferraz, escandaliza a sociedade da época, tocando no violão o Corta Jaca de Chiquinha Gonzaga.

No Salão Nobre, o público é convidado a bailar ao som de valsa e, na sala de banquetes, a cozinheira (Will Magalhães) explica a salada que foi a política do café- com-leite. Não falta no percurso uma visita ao quarto do presidente Getúlio Vargas, onde se pode ler a carta- testamento e observar a bala que o tirou da vida para colocá-lo na história.

Muitas outras passagens de efeito, com os atores envergando divertidos figurinos de época (também assinados pelo diretor Jorge Crespo), fazem com que o espetáculo cumpra sua função educativa, divertindo e emocionando a plateia.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)