Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 5.02.1992
Uma lenda sem nenhum mistério
Nem só a Amazônia vive de lendas e mistérios. O teatro também esta cercado delas. Algumas tão esquisitas ou mais do que o Curupira que tem os pés trocados, a ponto de envolver afirmativas curiosas. Como por exemplo: se o ensaio geral for ruim, a temporada vai ser um sucesso, mas se na estreia tudo correr bem, o segundo dia vai ser um desastre.
Estas são algumas das lendas, porque os mistérios são infindáveis e com pouquíssimas chances de corresponder a alguma explicação plausível. Nada disto justifica os eventuais defeitos e qualidades de um espetáculo. O que vale é o que está em cena.
Rebeca, a Bruxinha Encantada, em cartaz no Teatro Posto 6, é um desses casos. Já no título se revela a contradição, de conferir encantamento a um personagem que, por si só, já faz parte do mundo da magia.
Há dez anos em cena, circulando pelos mais diferentes espaços, o texto de Limachen Cherem não é de todo desprovido de criatividade, contendo até certos ingredientes que tanto agradam o público infantil. Rebeca, a Bruxinha com ares de fada, vive isolada na floresta numa casinha cercada de árvores, até receber a visita de sua tia Pervesina, esta sim uma bruxa má, que tem a incumbência de transformar a sobrinha em algo que se assemelhe mais a sua classe. Para cumprir esta tarefa se vale da ajuda de um visitante, o Sr. Vigaristino que vive aplicando golpes nos incautos. Com tanta maldade, era de se esperar a presença de um príncipe encantado com direito a espada e medalhão, para que Rebeca tivesse alguma reação e aprendesse alguns feitiços, salvando o príncipe e finalmente alcançando o almejado “e viveram felizes para sempre”.
Rebeca está em cena, mas casinha e as árvores da floresta estão pintadas num telão, onde portas e janelas jamais são usadas, ficando o acesso ao lar-doce-lar totalmente comprometido. Quando as visitas, são convidadas a entram mesmo é pela lateral do cenário.
A chegada da bruxa Pervesina feita pela atriz Sonia Silva, causa um certo impacto na plateia. Em contraste com a atuação recitativa dos outros personagens, Sonia provoca o público, compondo sua bruxa de maneira correta, utilizando bons truques teatrais para realizá-la. É, ao menos, um esforço para segurar, o pique do espetáculo. Tentativa inútil.
Cotação: ruim