Rastros, Faros e outras Pistas: suspense infantil no teatro Cândido Mendes. Foto Inez Oliveira

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 29.08.1992

 

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Policial para as crianças

O romance policial, com suas intrincadas tramas, nem sempre muito verossímeis, vem ao longo dos anos conquistando um público regular e cativo. Desde que Edgar Allan Poe inaugurou o gênero com seu Chevalier Dupin, os ingleses ficaram com os tipos mais centrados. Sherlock Holmes, para desvendar seus casos, usava e abusava dos mais estranhos disfarces, e nos momentos que antecediam a descoberta do mistério, se concentrava fumando ópio e tocando violino. Já o elegantérrimo Hércule Poirot evitava pegar pesado, dando trabalho somente as suas privilegiadas células cinzentas, enquanto saboreava um sirop de cassis. Na América de Dashiel Hammet e Raymond Chandler, a coisa era bem diferente.

Rastros, Faros e outras Pistas, com texto e direção de Ivanir Callado, em cartaz no Teatro Cândido Mendes, é uma história de suspense, calçada no modelo americano do film noir, não faltando à figura do detetive durão, da loura burra e do assistente trapalhão. E com referencias ao Velho charme dos enredos de Hammet e Chandler. A história também começa num escritório falido, onde, em dois anos, três meses e dezoito dias, nunca apareceu cliente algum. Salvos pelo gongo, o trio corre em busca da aventura, quando em missão especial tem que descobrir a causa da greve das vacas da fazenda do coronel Pingolão.

O texto premiado no Festival Coca-Cola Ecologia enfatiza o tema com bastante humor e sem didatismos. A direção de Callado, porém, não tira o melhor partido das situações por ele mesmo criadas. A primeira cena do espetáculo, embora contando com um trio excelente de atores, torna-se cansativa pela repetição da ida para a fazenda, “o local do crime”, já é bem mais dinâmica. A primeira entrevista com a principal suspeita revela todo o talento de Cristiana Veloso, a vaca grevista, que como animal de quatro patas, tem que contracenar com outro ator dentro do mesmo figurino, uma boa solução do diretor. Dos outros suspeitos, Renato Castelo traz a cena o seu natural humor ora como capim em extinção, ora como o coronel, caindo um pouco na pieguice na cena do caçador de passarinhos.

No mais, Rastros, Faros e outras Pistas têm ainda no elenco Gustavo Ottoni que compõe seu detetive como o ego dos galãs. Jorge Maia, mais uma vez, mostra o seu potencial vocal nas canções que interpreta e Ine Baumman esta irresistível como a secretária boazuda. Com a criativa trilha sonora de Mauro Perelman, cenário e figurino de bom gosto, o musical corre alegre e ritmado. Um bom divertimento para crianças de cinco a dez anos.

Cotação: 2 estrelas (Bom)