Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 16.05.1987
Mímica, Dança e Bonecos se Juntam
Raramente acontece um espetáculo infantil reunir diferentes linguagens como da mímica, dança, música, e panos e bonecos com plasticidade e poesia capazes de encantar também a adultos. Na esteira da comemoração dos 200 anos dos irmãos Grimm, outro conto de fadas – Rapunzel – sobe aos palcos, desta vez no anfiteatro do Planetário em primoroso trabalho de Luiza Monteiro, com o Quarteto de Roda.
O espaço, a céu aberto, não poderia ser melhor em tarde de outono, para ajudar a compor o simplicíssimo cenário da peça, entre caixas mágicas, os atores e os músicos. São eles, aliás, que dos figurinos à suave melodia dos sopros e corda – Claudio Guimarães, Marco Aurélio Cunha, Lena Verani e Roberto Victório – vão criando o clima onírico de tons medievais em que a história se desenrola.
Do livro aberto, literalmente desponta o restante do cenário em panos que ganham vida nas mãos da atriz muda, e falam. Daí em diante, falam os gestos e o corpo contando com transparência o drama de Rapunzel, alternando com os bonecos de Eugênio Santos, manipulados por Pedro Ascher, os papéis e as personagens, cujos figurinos são detalhes de Marcos Garcia.
O esmero da produção e da técnica só realça a delicadeza do trabalho em que a mímica pontifica, sob a direção de Beatriz Junqueira, mantendo a plateia inteiramente cativa. Imperdível para qualquer idade.
Despretensioso e também envolvente para crianças, é O Sonho de Libel, de Jurandir Freire, um paulista de muitos prêmios que, pela primeira vez, é montado no Rio. A peça esteve em cartaz em São Paulo por dois anos e está desde março no Teatro da Galeria. Uma história singela que aponta para o papel fundamental dos sonhos dormidos ou despertos na elaboração dos conflitos infantis, diante das limitações do real.
Tirando, do baú da fantasia cigano, moleque, soldadinho de chumbo e polichinelo, uma menina pobre enfrenta seus temores e aprende a sorrir e ser feliz. O elenco é responsável pela montagem: Marco Ortiz, Neide Pires e Selene Marinho, com supervisão de José Roberto Mendes, dirigindo no momento o Saruê Astronauta. Sem grandes novidades plásticas e técnicas, o espetáculo cativa pela ternura e alegria das personagens e as crianças voltam satisfeitas, para casa.