Paulo Heusser, Kelzy e Mônica: pouco dinheiro e muita criatividade

Crítica publicada na Revista Veja Rio
Por Lívia de Almeida – Rio de Janeiro – 1997

Engenho e Charme

A falta de recursos materiais para a produção é uma das desculpas esfarrapadas mais usadas para justificar a pobreza de ideias que muitas vezes sobe ao palco. Rapunzel, encenado pela Cia.Truanesca de Repertório, é a prova cabal de que criatividade independe de orçamento. Os cenários são lençóis floridos, o cavalo do príncipe é feito com vassoura e esponjas de cozinha e os espinheiros que cercam a torre onde está aprisionada a heroína são escovas. Todos esses adereços criados por Ney Madeira poderiam ser apenas muito engenhosos, mas ganham sentido, e charme, quando se sabe que a narradora da peça é a empregada doméstica Celestina, a ótima Kelzy Ecard, que também interpreta a bruxa.

O cuidado está presente em cada detalhe: o elenco canta direito, aproveita bem o minguado espaço do palco do Teatro do Museu da República e até produz uma animada bateria com um latão de lixo e utensílios de cozinha. A qualidade do trabalho não chega a ser surpresa para quem assistiu no ano passado à montagem de Suriléa, Mãe Monstrinha, um ótimo pequeno espetáculo. A história de Rapunzel é contada com grande fidelidade à versão dos Irmãos Grimm criada no início do século passado. A menina vai parar nas mãos de uma bruxa ainda recém-nascida porque sua mãe não resistiu à vontade de comer rabanete na horta da vizinha malvada durante a gravidez. Já adolescente e dona de enormes tranças, Rapunzel, Mônica Müller, vive conformada em uma torre sem portas, até que é descoberta por um príncipe, Lula Ferreira. A bruxa se aborrece com a visita, mas o final é feliz. Apesar de uns poucos momentos de tensão, o espetáculo pode ser apreciado até por crianças bem pequenas.

Serviço

Rapunzel
De Leonardo Simões
Estreou em 14/6/1997
Teatro do Museu da República, 42 lugares
Rua do Catete, 153, Catete
285-6350
Sáb. e Dom., 17h.
R$ 10,00