Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 17.06.2006
O amor contra os desígnios da bruxa má
Rapunzel é um competente reconto, leve e criativo, em cartaz no palco do Sesc Tijuca, dentro do Projeto Sesc-Cbtij de Teatro Infantil, que vem levando teatro de qualidade a diversos bairros do Rio de Janeiro. A adaptação de Rapunzel, um dos contos populares menos banalizados, ganha nessa montagem contornos atualizados sem perda da delicadeza, da ingenuidade e da simplicidade da versão conhecida no mundo todo.
A história original, coletada pelos Irmãos Grimm, narra os infortúnios da menina Rapunzel, que é criada prisioneira, por uma bruxa malvada, numa imensa torre. O cabelo da menina nunca é cortado e é conservado em uma gigantesca trança. Um dia, um príncipe, passando pelo local, ouve a voz de Rapunzel e decide salvá-la. Ao enfrentar a vilã, é castigado com uma cegueira total. Mas é salvo pelas lágrimas da amada e ambos têm o merecido final feliz.
Leonardo Simões, adaptador e diretor, traz a história para a cozinha de nossas avós e nos apresenta um reconto onde os elementos cotidianos de uma casa se transformam nos mais diversos objetos cênicos. Assim, de forma mágica, bem ao feitio da imaginação infantil, vassouras se transformam em cavalos com a maior naturalidade. São inúmeros os personagens animados em cena, entre eles escovões e esponjas.
O cenário e os figurinos de Ney Madeira contribuem significativamente para a atualização do conto, imprimindo humor ao espetáculo e sublinhando a proposta do encenador. Um cuidadoso trabalho artesanal e de pesquisa se entrosa de modo uno com o texto e a linha de interpretação dos atores, que brincam e se divertem como crianças no palco.
Kelzy Ecard, que já recebeu uma indicação para prêmio Mambembe de melhor atriz pelo papel de Rapunzel, conduz a narrativa com vigor, cativando o público e direcionando o olhar da criança para a história. Mas os demais atores – Fernanda Maia e Cadu Fernandes – também cumprem com eficiência suas funções.
A música tocada e cantada ao vivo, integrada à proposta do espetáculo, se utiliza também de utensílios caseiros para a sua execução – objetos vão sendo retirados de dentro de um grande balde que, no final, se transforma em um tambor. A luz de João Franco é eficiente, embora não acrescente significado especial às cenas, que, no entanto, se prestam a isso pelos diferentes focos e climas propostos pela encenação de Leonardo Simões.
As grandes atrações do espetáculo são, sem dúvida, a atuação de Kelzy Ecard, o ambiente cênico – cenário e figurinos, os adereços de Cátia Vianna e a direção segura e sem efeitos pirotécnicos de Leonardo Simões.