Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 31.01.2014
Companhia Le Plat du Jour brilha em nova adaptação de clássico Rapunzel é o conto da vez – e resultou em montagem primorosa
A Cia. Le Plat du Jour, fundada por Alexandra Golik e Carla Candiotto, em 1992, ficou famosa no cenário paulistano de teatro para crianças e arrebanhou muitos prêmios adaptando contos clássicos infantis de forma ágil, criativa, com um humor físico e uma linguagem cênica extremamente vigorosa e até frenética. Foi assim com Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos, João e Maria, Peter Pan & Wendy, Pinóquio e Alice no País das Maravilhas.
Agora, em 2014, chegou a vez de Rapunzel. A montagem está um primor, fazendo frente aos espetáculos anteriores do grupo. Reparei, desta vez, que parece haver um cuidado maior com o texto. Não que as outras adaptações também não tivessem boa dramaturgia. Não é isso. O fato é que talvez Carla e Alexandra tenham chegado ao ápice em sua proposta de casar fisicalidade e agilidade com uma história bem contada e diálogos bem trabalhados. Em Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, as estripulias físicas ganhavam um peso predominante. Ao longo dos anos, a companhia foi burilando cada vez mais sua proposta, de tal forma que agora, em Rapunzel, o equilíbrio entre texto e encenação está perfeito e harmonioso.
As brincadeiras nonsense com as palavras, os trocadilhos divertidos, as frases de efeito humorístico, os nomes hilários dos personagens (como a bruxa Madame Gothel de Gothel ou as hortaliças Rabanelda e Rabanilda) – todo o texto, enfim, segura o interesse tanto do público mirim quanto do adulto. As atrizes Adriana Telg e Ziza Brisola dão conta do recado com bastante talento e graça, revezando-se em vários papéis, como é de praxe nos espetáculos da companhia. De vez em quando, elas até brincam com isso. Uma pergunta para a outra: ‘Onde você estava?’ E a resposta: ‘Eu estava ali me trocando!’ A plateia adora essa quebras, bem ao estilo brechtiano, em que os truques são revelados sem o menor prejuízo para o fio condutor da fábula. Adoro quando o príncipe pede para Rapunzel jogar as tranças e, toda vez, acontece a mesma coisa: as tranças desabam sobre a cabeça dele, que cai desmaiado, estatelando-se no chão.
A cenografia de Marco Lima é toda apoiada em um único e encantador elemento: uma casinha no alto de uma árvore. Grande sacada. Mas o melhor da vez está na trilha sonora, com a participação especialíssima de Toquinho. Ele compôs canções-tema inéditas para os personagens e até canta uma delas. São temas bem românticos e suaves, fazendo um contraponto ideal com o humor quase escrachado do espetáculo. Afinal, contar a história da sofredora Rapunzel sem os momentos de lirismo, aqui magistralmente proporcionados por Toquinho, seria uma lacuna que as meninas da plateia jamais perdoariam.
Serviço
Rapunzel
Teatro do SESC Pompeia
Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo-SP
Telefone: (11) 3871-7700
Sábados e domingos, ao meio-dia
Ingressos a R$ 8,00 (inteira)
Até 4 de março