Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 19.09.1992

Barra

Se fosse uma receita de bolo, seus ingredientes não deixariam dúvida do seu delicioso sabor. Se fosse um perfume, a mistura das fragrâncias teria endereço certo, ao gosto do consumidor. Se fosse um livro, o mínimo que poderia se esperar é que estivesse na lista dos mais vendidos.

Queridos Monstrinhos, em cartaz no Teatro da Praia, é um desses casos onde a receita do sucesso parece infalível. Com texto premiado de Paulo César Coutinho, cenários criativos de Alexandre Muruci, trilha sonora do preferido de nove entre dez estrelas do teatro infantil, Charles Khan, e tendo palco no elenco Totia Meirelles, Vânia Alexandre e André de Biasi, o espetáculo contém todos os elementos, que se bem conduzidos, o tornariam grande.

A começar pelos ingredientes do texto, uma mistura de conto de fadas com espantomania, contando a história de uma Bela adormecida, trancafiada pela mãe em uma torre de marfim, onde passa os dias entediada a tocar lira. Até que conhece Ramiro, o vampiro, e as delicias do rock. Se o texto não deixa dúvidas quanto a sua qualidade, a direção de Leonardo Franco, porém, não soube harmonizar o conjunto. O elenco se encontra perdido em cena, de maneira que só os atores mais experientes conseguem dar algum brilho as suas atuações. Como no caso da excelente Totia Meirelles (a bruxa Caxuxa), de Vânia Alexandre, que utiliza seu humor natural para compor a Bela e da vitalidade cênica dos atores Márcio Augusto e Stella Rodrigues, na dupla Lobinho e Ratita. Ficando totalmente comprometida as atuações de Carla Tausz, que como a fada Mafalda exagera em gestos e gritos, e André de Biase, como Ramiro, o vampiro, que muito pouco tem a acrescentar num papel quase coadjuvante. Mesmo que individualmente a qualidade das performances seja boa, a frágil atuação do diretor faz com que os atores se comportem como se estivessem num espetáculo solo, propiciando uma diversidade de tons, nada compatível com a ideia de contracenar. Apesar dos elementos complicadores na regência da encenação, mas que podem ser acertados sem muita dificuldade -, Queridos Monstrinhos é um espetáculo bem-intencionado. E nada como um bom molho para transformar panqueca em crepe suzete.

Cotação: 1 estrela ( regular )