Crítica publicada no Jornal do Commercio
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 09.08.1997
Teatro infanto-juvenil em ascensão
O Núcleo de Teatro Para a Infância, depois de quatro anos de atividades e de dois espetáculos: A Inacreditável Viagem de Marco Polo e sua Exuberante Viagem ao Ocidente e Ludi na TV nos traz agora um clássico, de Martins Pena, As Desgraças de uma Criança, numa adaptação de Fátima Valença, sob direção de Dudu Sandroni.
O espetáculo reinaugura, praticamente, o Teatro Ziembinsky, nessa sua nova fase de um Teatro Aberto à Infância e Juventude.
Num ritmo de vaudeville, onde nem mesmo as muitas portas faltam, a história é contada de modo simples e direto, possibilitando, ao público a que se dirige, o contato com um clássico do teatro brasileiro, numa produção extremamente bem cuidada, que recoloca o Teatro Infantil em sua trajetória ascendente. Uma inovação bem-vinda é a recomendação que o espetáculo se destina a crianças acima de sete anos. Dos oito aos onze anos é uma faixa a qual o teatro, hoje, não vem atendendo, e produções que se voltem para esse pré-adolescente são fundamentais no processo de formação de plateia.
Embora sempre atual no seu jogo de erros e equívocos, de situações clássicas, de personagens tipicamente brasileiros, a peça traz um universo de referenciais sócio temporais distante, difícil, talvez, de ser totalmente compreendido de pronto por ,seu público-alvo, mas um excelente momento para se dar a conhecer a ele esse recorte cultural.
O Núcleo de Teatro Para a Infância com excepcional elenco, tem o jogo cênico sempre a seu favor, pelo exercício do trabalho contínuo como grupo fixo. Com um equilíbrio invejável; não se pode deixar de destacar, no entanto, o trabalho do ator Marcos Ácher.
Neste segmento, os atores fazem os papéis femininos e as atrizes os papéis masculinos, o que embora seja um excelente exercício de ator, com certeza traz alguns ganhos e algumas perdas. Quando o ator interpreta papéis femininos seja optando por um tom caricatural ou por um tom mais realista, sempre consegue um efeito cômico; no entanto as atrizes, quando interpretam papéis masculinos dificilmente conseguem emprestar a força necessária ao personagem.
Numa produção primorosa, o cenário de Ney Madeira recria, com simplicidade e extremo bom gosto o clima de época, e seus figurinos mais uma vez superam a expectativa e se destacam pela inventividade, bom gosto e adequação.
Uma outra grata surpresa é ver a luz de Djalma Amaral retomar o vigor e a pujança de sua criação. Da clara cena da comédia, aos efeitos precisos e adequados, Djalma sublinha, da melhor forma, a encenação.
Quem Segura Esse Bebê inaugura a produção do Teatro Ziembinsky, voltada para a Infância e Juventude, ousa ao introduzir uma polêmica indicação de faixa etária, a nosso ver absolutamente sábia, aproxima dessa nova plateia um clássico do teatro, sem didatismos, numa produção primorosa. De resto é apenas deixar o elenco se “soltar” mais e mais, e adquirir o ritmo exigido por esse tipo de espetáculo.