Matéria publicada na Revista de Teatro SBAT
Sem Identificação – Rio de Janeiro – Jan/Fev 1960
A quem a prioridade no teatro infantil por artistas adultos?
Escreve ao “Jornal do Comércio” o Presidente da SBAT.
O acadêmico R. Magalhães Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, dirigiu ao diretor do “Jornal do Comércio”, a seguinte carta:
“Meu caro Carlos Rizzini: – Como já lhe havia dito pessoalmente, o ”Jornal do Comércio“, querendo homenagear valores do nosso meio literário e artístico, cometeu, quando não uma injustiça, pelo menos uma inexatidão, que me cabe retificar, para que não passe em julgado e venha a constituir, de futuro, um elemento capaz de colocar pesquisadores e historiadores em pista falsa”.
Refiro-me a medalha dada a Maria Clara Machado, como “homenagem especial como Criadora do Teatro Infantil por Artistas Adultos”.
Acredito que o “Jornal do Comércio” foi de boa fé induzido a erro por informações de quem não se deu ao trabalho de pesquisar a verdade. Homenagens merecerá Maria Clara Machado como atriz e como autora de peças infantis, não, porém, por aquele título que não lhe cabe.
Quem na verdade, fundou no Brasil o Teatro Infantil por Artistas Adultos foi Lúcia Benedetti, com a peça O Casaco Encantado, levada a cena pela Companhia Artistas Unidos, elenco profissional de primeira ordem, com Henriette Morineau, Graça Melo, Ambrósio Fregolente, Dary Reis, Jacy Campos, Margarida Rey e outro, no Teatro Ginástico, em temporada regular, iniciada a 7 de outubro de 1948, como se poderá verificar no registro da SBAT. O Casaco Encantado, peça representada em todo o Brasil, assim como em Portugal e na Argentina, foi premiada pela Academia Brasileira de Letras, no ano de 1949. Se não bastasse isso, ainda viria antes das primeiras tentativas de Maria Clara Machado a peça Simbita e o Dragão, representada no mesmo Ginástico, a 22 de maio de 1949, com Sérgio Cardoso, Sérgio Brito, Jayme Barcelos, Elísio Albuquerque, Wilson Grey e outros integrantes do Teatro dos Doze.
Pouco depois de estrelado O Casaco Encantado, surgiram outras manifestações, no campo do teatro infantil, também por atores adultos, sendo uma delas A Revolta dos Brinquedos, de Pernambuco de Oliveira e Pedro Veiga, na Companhia Itália Fausta – Maria Della Costa – Sandro Polônio. Antes ainda de surgir Maria Machado, com O Tablado, Lúcia Benedetti fazia representar, no Copacabana, sua versão pessoal de Branca de Neve, com Mara Rúbia, Jardel Filho, Nicette Bruno, Dary reis, José Valuzzi e outros, a 17 de setembro de 1950, e Josefina e o Ladrão, – continuação de O Casaco Encantado, – a 10 de fevereiro de 1952, outra vez pelos Artistas Unidos, tendo a gente Henriette Morineau como a bruxa errada e bondosa.
Ora, estava mais que criado, o teatro infantil por artistas unidos quando Maria Clara Machado, seguindo na esteira de Lucia Benedetti, deu a conhecer sua primeira peça para crianças, O Boi e o Burro no Caminho de Belém, cuja estreia se deu a 4 de dezembro de 1953. Em seguida, ela escreveu O Rapto das Cebolinhas, estreadas em julho de 1954, e Pluft, o Fantasminha, estreada a 8 de dezembro de 1955.
Como vê o prezado confrade, se alguém criou realmente o Teatro Infantil por Atores Adultos – e atores profissionais, da melhor categoria, – foi Lúcia Benedetti.
Ninguém poderá tirar essa prioridade, ainda que medalhas por ela não lhe sejam dadas.
O objetivo destas linhas não é, nem poderia ser, o de apoucar os esforços da brilhante atriz e autora de O Tablado, mas o e restabelecer a verdade dos fatos, para o que sei que as nobres colunas do velho “Jornal do Comércio” sempre estão abertas.
Envia-lhe um cordial abraço o velho confrade.
R. Magalhães Júnior