Que Bicho é Esse? está em cartaz no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo. Foto: Kaká Degaspari

Barra

Uma princesa e seus pretendentes no quintal de nossos avós

Assim é o simples e eficiente Que Bicho É Esse?, do veterano Grupo Pasárgada

Trata-se de um grande feito: o Grupo Pasárgada caminha este ano para seu 44º aniversário. Tanto tempo na estrada lhe confere uma inegável autoridade na difícil arte de fazer teatro para crianças. Que Bicho É Esse?, em cartaz no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo, acerta ao levar para o palco um conto popular recolhido por um dos mais importantes pesquisadores, antropólogos e historiadores de nosso País, o potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986).

Com texto de Angela Lyra e José Geraldo Rocha, o espetáculo se revela, antes de mais nada, bastante resolvido dramaturgicamente. Ficamos o tempo todo com a sensação agradável de estar ouvindo uma história muito bem contada. Uma história fantasiosa, fabular, arquetípica, ao mesmo tempo, fincada em raízes populares e na busca por uma identidade cultural nacional. Também assinando a direção, José Geraldo Rocha prossegue coerentemente na linha que mais gosta de adotar: a recuperação da estética e da linguagem dos nossos quintais de antigamente, o que é seguido à risca e literalmente pela cenografia e figurinos de Valnice Vieira Bolla. Basta ver em cena os varais com roupas estendidas, pra gente mergulhar no mundo saudosista que tanto já encantou várias gerações, ao ser transposto para o palco.

Ponto culminante, a meu ver, são os bonecos de sucata criados também por Valnice Vieira Bolla. Quando a princesa protagonista, feita de vassoura, tem de escolher um pretendente, é muito divertida a sucessão de príncipes que vão surgindo por trás do muro, cada qual de uma nacionalidade (árabe, chinês e até um divertido mineirinho) e todos confeccionados com alta dose de criatividade e simplicidade. Não se trata de uma produção rica, mas a trajetória tarimbada do Pasárgada permite que o grupo tire riqueza dos objetos mais simples, panos, cordas. O momento em que mil coelhos têm de aparecer em cena é impagável, pois os coelhos são simplesmente sugeridos por rolos de papel higiênico, cada qual envolto por um saco de plástico reciclável. Um efeito simples, barato, eficiente, engraçado e até bonito.

A trilha sonora ao vivo, assinada por Joana Flor, dá o toque necessário de musicalidade regional, mesclando instrumentos como violino, violão, flauta, acordeom e cavaquinho. As letras das canções integram-se a contento ao enredo da peça, ajudando os pequeninos a permanecerem ligados no palco o tempo todo. Não pode faltar uma menção merecida ao competente elenco: Angela Lyra, Kaka Degaspari e Luian Borges.

Serviço

Teatro Leopoldo Fróes
Rua Antonio Bandeira, 114, esquina com a Av. João Dias 822
Biblioteca Prestes Maia
Tel.: (11) 5541-7057
Sábados e Domingos às 16h
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)
Em cartaz até 29 de março