Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 26.05.1996
Boas intenções em montagem frágil
Em meio à década de 80, Tiago Santiago despontava na dramaturgia carioca como uma grande promessa. Realmente sua peça de estreia. A Fonte da Eterna Juventude, dirigida por Domingos de Oliveira, causou certo movimento na mídia, que fez o público correr ao teatro par ver um espetáculo tão completo de um autor tão jovem. O sucesso da estreia lançou um profissional competitivo, como poucos, no mercado teatral, literário e televisivo. Sempre em atividade, Tiago Santiago é, também, autor da polêmica versão de O Despertar da Primavera de Frank Wedekind, na qual traz a história para Ipanema, suprime o final trágico e didatiza a sexualidade do texto original. Mas se em o Despertar as modificações não conseguem banalizar a trama, o mesmo não acontece em Quatro Formas De Amar.
Num apartamento possivelmente a beira mar, dois jovens casais encenam seus encontros e desencontros amorosos em diálogos inverossímeis. Com tipos bem marcados, estão em cena o garanhão, a virgem, a experiente e o tímido. Ana (Flavia Bonato) e Léo (Sandro Cardoso) namoram há muito tempo, mas ainda não fizeram amor. Tati (Daniela Duarte), amiga de Ana, é uma garota experiente, mas infeliz com sua vida amorosa e familiar. Júlio (Vitor Hugo), amigo de Léo, tenta aprender com o amigo a melhor maneira de perder sua virgindade. Enquanto os pais de Léo viajam para a Europa, o apartamento se torna uma espécie de quartel general de problemas a serem resolvidos.
O texto, poeticamente perfeito se torna recitativo no palco, onde a ação se perde no excesso da palavra. A ideia de informar a nova geração sobre a prevenção da gravidez e da AIDS, as dificuldades nas relações amorosas e familiares, embora muito oportuna, chega irregular ao palco, transformando o tom informativo em assustador. A paixão de Tiago Santiago por O Despertar da Primavera faz com que o autor insira uma cena inteira no seu próprio texto – o pai de Tati a agride fisicamente, o que faz com que Ana peça ao namorado para espancá-lo, como acontecia com Vendla no texto de Wedwkind.
A direção de Rogério Fabiano segue linearmente o texto, sem muito espaço para a criatividade que marcou seus espetáculos até o momento. Os atores pouco à vontade em cena, limitam-se a dizer suas falas mesmo sem acreditar nelas. O brinde final a algo como “o útero da mãe terra” soa tão anacrônico na voz do jovem elenco quanto ficaria na da geração hippie brindando à bomba atômica. Com um certo humor, o ator Vitor Hugo dá a volta no texto e termina o espetáculo tirando algumas gargalhadas da plateia.
Quatro Formas De Amar é, a princípio, um espetáculo para adolescente, assistida por uma plateia de meia idade. Alguma coisa deve estar errada.
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