A peça se inspira em caso real de suicídio,
ocorrido em 90


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 23.07.1994

 

 

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Alerta contra a opressão

A ideia inicial do autor de A Quarta Companhia, Desmar Cardoso, era trazer ao palco uma versão do filme de Peter Weir, A Sociedade dos Poetas Mortos, abordando a opressão do sistema escolar com consequências trágicas, como suicídio de um dos personagens. Num desses casos em que a vida imita a arte, o projeto acabou sendo substituído por um texto original do autor, infelizmente baseado em fatos reais. Pior ainda, com o agravante de não ter acontecido, como no filme, nos anos 50, mas exatamente quatro décadas depois.

Em 1990, Celestino Rodrigues Neto, de 14 anos, aluno do Colégio Militar, ganhou as manchetes dos jornais ao cometer suicídio depois de ser punido com seis dias de suspensão, por ter colado numa prova. A comunicação oficial da punição, na presença de toda a turma e da mãe do aluno, levou-o à decisão extrema.

Para compor sua história, Desmar conversou com a família de seu personagem principal durante seis meses e, ao mesmo tempo, reunião informações sobre a incidência de suicídios entre os adolescentes. Entretanto, ao contrário do que se poderia esperar de um texto com um tema tão marcado,A Quarta Companhia é uma peça de costumes, onde a família do aluno, de classe média, é retratada em ricos e até risíveis detalhes, o que naturalmente evidencia o ridículo da austeridade escolar

A direção do próprio Desmar – dividida com Paula Horta – ilustra corretamente a proposta do texto. Pouco usada, mas eficiente, a coreografia de Cláudio Moreno para a versão de The Wall, do grupo Pink Floyd, produz um efeito cinematográfico. O jovem elenco, em sua quase totalidade vindo de outras montagens dos diretores, consegue sair-se bem tanto nas cenas de humor como nas de maior dramaticidade. Mas as atuações de Vitor Hugo, Sandro Cardoso, Cassiano Carneiro, Mariana Leoni e Leandro Figueiredo destacam-se. Já os “veteranos” se saem melhor em situações específicas, como no caso de Jalusa Barcelos nas cenas de humor e Elcio Romar nas de autoritarismo explícito. Apenas Hélio Ribeiro consegue transmitir todas as nuances de seu personagem.

A Quarta Companhia é um espetáculo que, mesmo feito por e para o público jovem, embora sem os ingredientes mágicos de costume (sexo, drogas e rock and roll), certamente pode agradar ao restante da família, com cenas que permitem uma perfeita identificação. Ou, quem sabe, um alerta.

A Quarta Companhia está em cartaz no teatro do Leblon de quinta-feira a sábado, às 19h. Ingressos a R$ 5.

Cotação: 2 estrelas (Bom)