Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 15.07.1976

Barra

Para o observador que acompanha continuamente o panorama do teatro infantil carioca, fica cada vez mais claro que, para a melhoria do padrão atual, a primeira coisa que tem de ser feita é uma mais criteriosa e sempre mais exigente escolha de texto com poucas qualidades permite a criação de um espetáculo de alto nível. Enquanto as pessoas partirem do princípio de que a peça infantil é coisa fácil de escrever, bastando inventar uma aventura com bichos, brinquedos ou crianças, dificilmente o panorama se modificará. Basta olhar para o grande número de peças em cartaz para notar a evidencia; as melhores montagens são exatamente aquelas que se apoiam em textos mais bem construídos, mais elaborados, mais significativos.

Essas considerações vêm a propósito de As Proezas do Macaco Simão, peça em cartaz no Teatro Brigite Blair (ex-Miguel Lemos). E que, para ser escrita, necessitou da colaboração de dois autores; Francisco Falcão e Antonio Carlos Pelosi. De que trata a peça? Na sua primeira parte, é mostrada a série de tentativas da onça para comer o cabrito, objetivo nunca alcançado devido às proezas (???) do macaco. Na sua segunda parte, o texto mostra a união dos três animais contra um colecionador que quer aprisionar bichos estranhos para empalhar. E este tema (sobre o qual já vimos ou lemos tanta coisa parecida) é contato a partir de uma estrutura dramatúrgica sempre arbitrária, com entradas e saídas dos personagens sem reais motivações, e com os animais tomando atitudes as mais ingênuas e sem coerência, apenas para que os autores tenham possibilidades de chegar ao final da trama.

A direção – de Francisco Falcão – não toma conhecimento das deficiências do texto, assume-as integralmente. Utiliza-se dos eternos chavões do teatro infantil: esbarrões de costas, pulinhos, luz estroboscópica, perseguições sem qualquer verdade cênica. Nos números musicais, o canto é (mal) feito em play back, e a coreografia é realmente entre aspas.

O aspecto visual do espetáculo é simplesmente lamentável no que se refere ao cenário (tanto que o cenógrafo se esconde no anonimato). Aquele arremedo de arvore e aquelas folhagens dependuradas na boca de cena demonstram que não existe a mínima preocupação com esse – para eles – pequeno detalhe. Já os figurinos são um pouco mais cuidados. O elenco funciona com firmeza e correção, mas os atores têm de lutar a cada instante, com um texto pobre e uma direção idem. O que não é nada fácil. E nem estimulante.