Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 26.09.2014

Barra

Música de Gonzagão embala uma linda amizade

Procurando Luiz tem apuro técnico e visual e conta a linda história de dois amigos que precisam se separar.

Em julho de 2013, estreou em São Paulo, para uma premiada e bem-sucedida carreira, a peça Menino Lua , com direção de Fernanda Maia, inspirou nas canções de Luiz Gonzaga e retratando o que poderia ter sido a infância de Gonzagão. Agora, pouco mais de um ano depois, está em cartaz uma nova peça infanto-juvenil baseada no universo musical do nosso rei do baião. Procurando Luiz , no Teatro Itália, concebido e idealizado por Roberto Haatner, direção geral e musical de Gustavo Kurlat, é um belo espetáculo sobre a amizade. Vale a pena prestigiar. Incrível como, em tão curto intervalo, duas peças deram conta do mundo de Gonzagão de formas tão diversas, criativas e até complementares.

Em Procurando Luiz , há apenas cinco canções inspiradas durante todo o espetáculo – e as escolhas de Kurlat recaíram sobre o repertório menos conhecido do compositor e intérprete, originada em um tributo inusitado com uma trilha nada óbvia. São elas: Roendo Unha (Luiz Ramalho e Luiz Gonzaga), Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Dança do Capilé (Rildo Hora e Humberto Teixeira), Eterno Cantador (Alemão e Elzo Augusto) e mais conhecida das cinco : Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). O trio de atores (Haatner, Bruno Perillo e Iris Yazbek) canta e toca instrumentos com desenvolvimento e talento.Os três também garantem bons momentos de atuação, alternando graça e emoção.

Assim pergunta o autor do texto, o veterano e onipresente Paulo Rogério Lopes, no programa da peça: “Quem nunca teve um amigo que se distanciou algum dia, prometendo um reencontro? Ou quem nunca foi, alguma vez, o próprio amigo que teve de se afastar, mas prometendo voltar?” Esse é o tema de Procurando Luiz , uma linda história de amizade que atravessa os anos, apesar do tempo que passa avassalador. O espetáculo peca por excesso de texto. Principalmente em sua primeira metade, há muita falação e pouca ação. Os personagens conversam muito entre si sem sair do lugar, em marcações estanques. Sorte que o texto de Paulo Rogério é sempre bom em qualidade, porém aqui merecia algum enxugamento ou uma direção mais dinâmica.

A direção de Kurlat privilegia momentos de intensa beleza plástica, como a antológica cena em que a menina Das Dores dança com um balão. É lindo de ver. Contribuiu para esse capricho visual um afinado desenho de luz, a cargo de outro talento onipresente no circuito paulistano de teatro, Kleber Montanheiro. Cenários, estatuetas e adereços, de Marco Lima (epa, esse é outro nome de talento que está em todas!), também merecem menção. Os figurinos exploram o couro e os temas do cangaço com sutileza e criatividade, atualizando coletes e casacos nordestinos com estampas inusitadas.O personagem Luiz (Bruno Perillo), por exemplo, veste uma camisa preta estampada que é bastante vistosa e harmoniosa com a estética do espetáculo, assim como chama a atenção a saia em escamas de peixe da menina Das Dores, com predominância da cor azul nos babados.

O saldo é bastante positivo, culminando com uma surpresa no final, relacionada à amizade dos dois personagens que se separaram logo no início da peça. Gonzagão sentiria orgulho se visse no palco essa tradução de seu legado musical em forma de tanta poesia cênica, tudo em nome da celebração da mais pura e sincera amizade entre dois homens. Vamos ao teatro?

Serviço

Teatro Itália. Avenida Ipiranga, 344 – República – São Paulo
Tel.: (11) 3255-1979
Sábado e domingo, 16h
Ingressos: R$ 20,00 (inteira)
Até 26 de outubro