A nova versão da Procura-se um amigo, peça que já teve vários elencos diferentes, revela amadurecimento da direção

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 05.02.1994

 

Barra

O desperdício de um bom texto

Há três anos, quando estreou, espremido no proscênio do palco do Canecão, Procura-se um Amigo subvertia o enredo anunciado pelo título para contar uma singela história de amor, protagonizada pelos então muito jovens Thiago D’Ângelo e Natália Lage. O tempo, que passa para todos, se encarregou de amadurecer o espetáculo, e o que hoje está em cena é uma versão muito mais enxuta e fiel à ideia original explicitada no título.

A direção de Kátia D’Ângelo para seu próprio texto, em colaboração com Dulce Bressane, traz ao palco uma mistura de estilos teatrais, que inclui o teatro de revista, o circo e números musicais coreografados. A peça conta a história do menino que se vê sozinho, em sua festa de aniversário, por um equívoco da secretária de seu pai. Ao bater o convites, ela inverteu as informações mais importantes e, em lugar de escrever dia 17, às 19h, anotou dia 19, às 17h, adiando os festejos e ao mesmo tempo deixando a criança no maior clima de ninguém me ama.

O texto, com algumas passagens muito interessantes sobre o despertar da sexualidade e a importância dos amigos, acaba se perdendo, na encenação, por conta da inexperiência do elenco. A mensagem desperdiçada, no entanto, é compensado com cenas ágeis e musicais, amparadas por uma invejável trilha sonora. Nos créditos, entre outros, Baby Consuelo, Victor Biglione, Marcos e Paulo Sérgio Valle, Ed Wilson, Sullivan e Massadas. A peregrinação do personagem principal pelo mundo, em busca de um amigo, revela curiosidades nos hábitos e costumes de outras terras. Algumas cenas, porém, se alongam desnecessariamente – como as brincadeiras com as diretoras e os patrocinadores – e poderiam ser cortadas sem prejuízo.

No elenco, no Rodrigo Schuindt alcança bons momentos na interpretação do personagem principal, mas o mesmo não acontece com sua partner, Priscila Bernardes, completamente dispersiva durante grande parte da encenação. Cristina Barbosa dá graça ao robozinho Chip e Lívia Dabarian, de no máximo cinco anos de idade, canta e dança com desenvoltura, roubando todas as cenas de que participa. O espetáculo tem uma novidade: a iluminação das laterais do palco é operada pela plateia, com um controle remoto. Mas o sumiço dos aparelhos, no último domingo, fez com que a produção distribuísse novos ingressos para futuras apresentações, onde o público poderá interagir na montagem, como estava prometido.

Construída cena por cena, Procura-se um Amigo, a peça, virou livro, no qual a qualidade do texto poderá ser melhor observada.

Enquanto espera o lançamento, o público pode ver o espetáculo e instruir-se. Logo no começo, por exemplo, ao som das batidinhas da Rádio Relógio, há uma informação imprescindível: “A formiga ruiva do Tibete carrega 30 vezes o seu peso”.

Procura-se um Amigo está em cartaz no teatro Casa Grande, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR& 1.200,00.

Cotação: 2 estrelas (Bom)