Critica publicada no Jornal do Brasil
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 21.08.1999

Uma boa história desafinada

No verão de 1996, Paulo e Nora Rónai levavam as filhas Cora e Laura para umas férias em Nova Friburgo. A temporada chuvosa acabou gerando um texto muito interessante para as crianças, A Princesa Dengosa que mesmo no improviso das férias foi montado com cenários e figurinos de papel crepom. Da doce lembrança, chega agora ao palco do Teatro Candido Mendes A Princesa Rebelde, comédia de Cora Rónai, inspirado na obra de seu pai.

O texto de Cora conta a história de uma princesinha muito autoritária e irritadiça que não está contente com nada desse mundo. Para curar a moça de maus bofes, o primeiro-ministro tem a boa ideia de inventar uma invasão do reino, deixando a princesa prisioneira, agora na condição de criada. Já a criada que era muito nobre e sua profissão, vira princesa por um dia. Ao final, sentindo na pele o que é viver sob julgo de uma tirana, a princesinha toma jeito e todos vivem felizes para sempre.

Mas se o conto é enxuto e a moralidade vem na medida, a encenação não é dos melhores veículos para levar essa história a seu público. Francys Mayer, com um elenco desigual monta um espetáculo de ritmo comprometido pelas cenas estanques que mal se interligam. Isso não seria tão problemático se a protagonista tivesse o mínimo de empatia com a plateia, o que infelizmente não acontece. Fernanda Mor, de linda presença cênica, seria a princesinha dos sonhos de qualquer criança. Escolhida, talvez, pelo porte físico, a atriz de pouca experiência começa o espetáculo num tom altíssimo. Em poucos minutos o recurso se esgota, fazendo com que a personagem se repita além do necessário. A fragilidade se evidencia mais ainda quando os papeis são trocados – e as cenas se repetem -, tendo agora no papel de princesa a atriz Fernanda Barroso, ótima em sua performance. A comparação e fatal.

O restante do elenco cumpre suas funções sem maiores problemas, talvez um tanto presa ao papel, Vânia de Paula não mostre tudo o que sabe. A atriz é muito boa em cenas de humor, André Vieira, Fabio Povoleri, Evandro Amorim e Marcelo Pantoja apenas não comprometem.

Com cenários simples e funcionais, também assinados por Francis Mayer, o espetáculo tem apelo visual nos figurinos de Carlos Alberto Nunes, que veste o elenco ao sabor dos contos de fadas. Sem modismos ou invenções, tudo parece ter sido tirado de um livro muito bom de ser visto. O tom de fantasia talvez seja um dos elementos mais poderosos para envolver a plateia com a história que se quer contar.

Francis Mayer, um diretor experiente, com certeza vai afinar seu espetáculo, para que este possa realmente ser apreciado como merece. A história boa ele já tem.

Cotação: 1 estrela