Murilo Rosa e Jacqueline Brandão vivem os jovens apaixonados em montagem sensível
Foto de Fernando Costa


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 15.04.1995

 

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Sensual e sem vulgaridade 

Escrito em meados dos anos 70, Porcos com Asas, de Lídia Ravera e Marco Radice, chegou ao Brasil no começo dos anos 80 e do dia para a noite tornou-se um hit entre os adolescentes. A abordagem corajosa e explícita com que discute a sexualidade permanece atual, quase 20 anos depois de seu lançamento.

Mesmo centrando a trama a partir do cotidiano de um jovem casal de namorados e de suas relações com os amigos e a família, Radice e Ravera acabam focando a questão masculino e feminino, que com certeza permeia toda a existência humana. A insegurança em demonstrar o afeto, a busca do prazer e a insatisfação natural das relações desgastadas não são absolutamente privilégios de uma nova geração, tornando a discussão do tema pertinente para qualquer faixa etária.

A adaptação de Mário Sérgio Medeiros para uma obra literária tão rica em palavras chega ao palco em cenas entrecortadas, que certamente naufragariam em tempo arrastado, não fosse a habilidade do diretor. A ideia de trazer a ação para a época atual, usando apenas algumas referências e não o todo, se torna desnecessária, já que a questão central ultrapassa qualquer limite de data.

Na direção de Cláudio Handrey concebe um espetáculo de forte apelo sensual, sem cair na vulgaridade. Handrey conduz com delicadeza cenas de impacto, como a relação sexual dos personagens principais, Rocco e Antonia, em que a nudez dos atores e o recurso de colocá-los em lados opostos do palco só reforça o impacto visual. O diretor tem precisão malabaristica ao lidar com o tema.

Em perfeita sintonia com o diretor, a iluminação de Leysa Vidal completa a encenação completa a encenação com recursos trabalhados. Com muita sensibilidade, a luz sublinha a ação, dando novos sentidos às cores mais óbvias.

No elenco, Jacqueline Brandão é Antônia, com nuances elaboradas de fino humor. Murilo Rosa dá agilidade a Rocco e se sai melhor em cenas de ação. Julio Travatti não está muito à vontade como o professor homossexual e Deborah Catalani envelhece demais as mães que representa. Os demais atores, em papéis de apoio, cumprem bem suas funções

Porcos com Asas é um teatro oportuno, que foge ao modelo atual direcionado ao público adolescente. Atraente, sem ser digestivo, deve decolar sem turbulência.

Porcos Com Asas, está em cartaz no teatro Glauce Rocha, as quintas e sextas (19h), aos sábados (21h) e aos domingos (20h). Ingressos a R$ 10 (quinta e domingo) R$ 12 (sexta e sábado).

Cotação: 2 estrelas (Bom)