Pollyana traz à cena as idéias dos romances do Eleanor Porter

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 11.07.1992

 

 

 

Barra

A emoção bem cuidada

Como adjetivo não é dos mais elogiosos, num país de espertinhos, pegos ou não por uma CPI, ser chamado de pollyana, na maioria das vezes, significa um alerta para cair na real. Concebido no começo do século, o romance de Eleanor H. Porter exalta sentimentos quase desuso, como a lealdade, a bondade e o otimismo. O livro fez tanto sucesso na época de seu lançamento que, rapidamente, hotéis, casa de chá e crianças ganharam o nome da menina que acreditava no “está ruim, mas poderia estar pior”.

Pollyanna, de Andréa Paola Prado, em cartaz no Teatro de Arena, é uma bem-vinda produção, cuidada nos mínimos detalhes, trazendo a cena às ideias de Porter, sem pieguice ou exageros, que poderiam tornar a história um tanto distante de seu público. Ao contrário, a plateia se delicia com a saga da menina órfã que consegue derrubar toda a ordem e método dos habitantes da pequena cidade de Beldingsville, quando ensina a jogar o jogo do contente. A conquista mais difícil está em sua própria casa, mas mesmo a rabugenta Tia Polly acaba rendendo a mal comportada Pollyana.

A direção de Andréa Paola consegue transpor para a difícil arena todas as intenções do texto original. Utilizando delicados adereços cênicos. Faz o espectador imaginar, desde a suntuosa sala de jantar de Miss Polly Harrington ao minúsculo quarto de Miss Snow, sem que as passagens se tornem penosas, ficando a cargo da trilha sonora atenuar o usoblackout.

Outro grande trunfo da encenação está em seu elenco. Fernanda Rodrigues é Pollyana e vive com vive com precisão a personagem. Ana Beatriz Wiltgen faz a criada Nancy com toques irresistíveis de humor. Lúcia Abreu, como Miss Polly, constrói sua personagem com gestos bem marcados, deixando que a austeridade inicial, exigida pelo texto, se transforme, lentamente, em doçura, o mesmo acontecendo com a Miss Snow interpretada por Helena Lacombe. A encenação conta ainda com figurinos criativos de Anete Cota e competente trilha sonora de Marcelo Calderazzo.

Pollyana é um espetáculo que emociona crianças e adultos, tanto pelo seu enredo como por sua realização cênica. E desperta o desejo de reler o livro, de experimentar bater portas outra vez, além de levar as lágrimas algumas pollyanas da plateia.

Cotação: 2 estrelas (Bom)