Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 04.06.1977

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Pluft: reflexões sobre qualidade e conformismo

Enquanto se espera a montagem do novo texto de Maria Clara, Pluft, o Fantasminha é mais uma vez ressuscitado. A história deste simpaticíssimo fantasma e de suas relações com “gente” carrega sempre uma boa carga de poesia, humor, non sense. Neste ponto, justifica-se sua remontagem de vez em quando porque muda a geração de crianças e – a opinião é quase unânime – quem viu Pluft na sua infância, nunca mais esqueceu. Há uma diferença marcante entre as remontagens de Pluft e por exemplo, as remontagens de gatas borralheiras e brancas de neve de Roberto de Castro. Se os dois partem do mesmo ponto de vista empresarial (há sempre novas crianças que não viram as montagens originais), a filosofia de realização é absolutamente oposta. Enquanto Roberto de Castro procura se aproveitar de tudo o que sobrou e, praticamente, repetir sempre, Maria Clara demonstra a intenção de, a cada nova montagem, fazer uma nova produção. Entretanto, tendo visto o Pluft de 1975 e este de agora, noto que o que seria um “novo espetáculo” fica apenas na troca de cenários, figurinos e elenco. Temos todos consciência de que qualquer um desses elementos estimula, determina, pede e influencia a montagem através de tons, ênfases, limas, movimentação. Maria Clara – como diretora – ignorou todas as potencialidades desses elementos e realizou uma direção praticamente igual à de dois anos atrás. (ou será, ainda, que há de dois anos atrás já era igual à de anos anteriores?). Em 1975, ao fazer a análise da peça, observei que havia uma marcante falta de ânimo na direção. E, ao constatar que, dois anos depois (e quanta coisa aconteceu!) a direção é absolutamente igual, sinto que está chegando a hora de Maria Clara deixar que outros montem Pluft; ou, então, (o que poderia dar excelentes resultados) assumir plenamente a criação de um novo espetáculo, ao invés de, conformadamente, ficar copiando velhas fórmulas de encenações anteriores. Que tipo de movimentação tem um diretor repetindo seu trabalho ano após ano? Essa falta de motivação se reflete no espetáculo; uma montagem apenas correta e bem acabada quando, na realidade, com o texto e com as possibilidades de produção existentes, poderia ser uma encenação brilhante.

Indiscutivelmente, os figurinos são bonitos, o cenário idem e o elenco cumpre corretamente suas funções (Silvia Fucs, no dia em que vi o espetáculo, apresentava sérios problemas de tempo que precisavam ser corrigidos); indiscutivelmente, a montagem agrada as crianças; indiscutivelmente o texto – já tantas vezes analisado – é um achado; indiscutivelmente etc.etc.etc.

Mas a grande pergunta que fica (depois de recomendar a todos os pais que levem seus filhos ao Tablado) é a seguinte: por que, nessas montagens de Pluft, o Tablado anda sempre abaixo dos 80 quilômetros quando não há nada que impeça (aliás, pelo contrário) que a velocidade seja muito superior a 160? Por que nos contentarmos com o bom quando podemos ter o melhor? Essa, aliás é uma filosofia conformista que vem impregnando as peças infantis ruins e contra a qual essa coluna vem se batendo desde que foi criada. Todos nos temos o direito e o dever de buscar o melhor. Nós não podemos nos permitir o conformismo, a preguiça e a passividade. Mesmo que seja de ótima qualidade.