Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 13.04.1975
Pluft, o Fantasminha é um trabalho que se caracteriza pela total supremacia do aspecto visual (cenário e figurinos) sobre a ação dramática propriamente dita (direção, texto e interpretação). O cenário de Juarez Machado é bastante expressivo, auxilia e impulsiona a ação e cria uma perfeita atmosfera para a exploração do texto. Os figurinos de Kalma Murtinho passeiam com grande harmonia pela moldura criada pelo cenário, são de grande beleza e estabelecem uma unidade estética plasticamente estimulante para o espectador. Porém, a diretora Maria Clara Machado não foi tão feliz quanto seu cenógrafo e sua figurinista. A montagem traz um ar cansado (até teoricamente justificável: afinal de contas, quantas vezes Maria Clara já montou o Pluft?) e o público vê um trabalho que carece de impulso, de motivação, de dinamismo. Falta ritmo ao espetáculo. Esse tom cansado da direção reflete-se também no elenco: os atores parecem trabalhar sem estímulo, estão lerdos, sem garra. Não se pode afirmar que haja atores sem talento no palco do Tablado. Mas, também, não se pode dizer o contrário. O que caracteriza o elenco é uma atuação meramente correta e neutra, como a de funcionários públicos que assinam o ponto, cumprem seu horário, assinam ponto novamente e vão embora. Falta brilho na interpretação. É tudo muito frio. O elenco reflete um cansaço injustificável para uma estreia.
O texto é muito agradável, simpático e carregado de uma boa dose de non-sense. Já está mais que provado que, com uma montagem dinâmica, Pluft, o Fantasminha, ganha um interesse cada vez mais crescente, porque os personagens são originais e os diálogos saborosos (Mas gente é uma gracinha, mamãe!; Meu pai era fantasma da ópera, , mas morreu e virou celofane).
(Porém, revendo Pluft, em certo momento da peça, quando o capitão Perna de Pau aterroriza a menina Maribel, eu me fiz a seguinte pergunta: deixando de lado toda a tradição maniqueísta das clássicas histórias infantis, até que ponto o excepcional sucesso de Pluft, através dos anos não foi o responsável – involuntário, é claro – por toda uma corrente de autores brasileiros que só consegue criar peças para crianças através do conflito entre o bem e o mal? É evidente que a presença de carrascos que torturam crianças indefesas não deve ser proibida quando utilizada eventualmente. Mas tem de ser combatida com rigor quando se transforma num recurso utilizado sempre: esse é o caminho mais fácil e, em termos de psicologia educacional, bastante perigoso. Todavia, ainda bem que essa escola de maniqueísmo-sádico-infantil já encontra sérios opositores, cujos trabalhos são, além de tudo, de alta qualidade: no Rio, estão em cartaz dois bons exemplos: Você Tem um Caleidoscópio? e A Viagem do Barquinho.)
Concluindo: Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado, no Teatro Tablado, é texto muito interessante, montado com cenários e figurinos excepcionalmente expressivos, mas que encontra, na direção e no elenco, uma falta de ânimo marcante. Pela qualidade visível da produção, o espetáculo merece nova visita do crítico. É possível que, com o desenvolvimento da temporada, a direção determine um ritmo estimulante, estabelecendo um comportamento mais dinâmico por parte dos atores.
Recomendações:
Com pequenas restrições: A Varinha do Faz de Conta e Criançando.