Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 26.05.2003
Pluft, o Fantasminha: Texto encenado no Tablado confirma sua atualidade
Peça de Maria Clara Machado tem vocação para o encantamento
O que leva um texto a sei encenado várias vezes, enquanto outros nem conseguem chegar ao palco? Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado, escrito em 1955, parece carregar a chave desse segredo. Em sua sétima montagem, em cartaz no Teatro Tablado, a ingênua história do fantasminha que mora com a mãe e o tio num casarão abandonado na beira da praia e que morre de medo de gente continua agradando em cheio ao público infantil.
A primeira coisa que chama a atenção em Pluft é o cuidado da diretora Cacá Mourthé com o espetáculo. Talvez o cudado de preservar a magia de um texto escrito há 48 anos, num tempo em que as crianças ainda eram poupadas das conversas e da realidade, nem sempre coloridas, dos adultos. Naquela época, os pequenos tinham mais tempo para ouvir e imaginar histórias. Como a do fantasminha Pluft, que começa a perder o medo de gente quando conhece a doce Maribel, ficando amigo dela e ajudando a menina a escapar do pirata Perna-De-Pau.
Um elenco de craques
Para levar ao palco do Tablado toda a magia do texto de Maria Clara, Cacá contou com uma equipe afinada. Ronald Teixeira e Flávio Graff bolaram um cenário engenhoso, propício às constantes entradas e saídas dos personagens. Kalma Murtinho, que viveu a mãe de Pluft na montagem de 1955, criou um figurino ao mesmo tempo lúdico e cômico, que remete às ilustrações dos livros de histórias infantis. Jorginho de Carvalho caprichou na iluminação e Caíque Botkay foi preciso na música.
O elenco da peça, formado por atores experientes, é uma atração à parte no espetáculo. A atriz Cláudia Abreu compõe um Pluft divertido, com o qual as crianças se identificam de imediato. Principalmente nas cenas em que ele explicita seu terrível medo de gente. Louise Cardoso, que já viveu o personagem em montagem dirigida pela própria Maria Clara, está muito à vontade e engraçada no papel da Mãe Fantasma. São ótimas suas conversas telefônicas com a Tia Bolha, ilustradas por bolinhas de sabão.
Miriam Freeland é uma Maribel graciosa e André Mattos, em suas aparições como o pirata Perna-de-Pau, arranca gargalhadas da plateia. Seus grunhidos, ou seja lá o que forem aqueles sons que ele produz, são hilariantes. E José Lavigne, como Tio Gerúndio, também tem bons momentos.
Já os três marinheiros interpretados por Marcelo Olinto, Alexandre Akerman e Sérgio Maciel, em alguns momentos destoam do resto do elenco exagerando em sua composição dos personagens e beirando a caricatura. Mas isso parece não incomodar nem um pouco o público infantil, que se diverte com as trapalhadas deles.
Se continuar ganhando montagens caprichadas como a de Cacá Mourthé, Pluft provavelmente continuará com fôlego para encantar muitas gerações de crianças em especial, as pequenas.