Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 1976

Barra

Pipocas de Papiro, um bom espetáculo

Pipocas de Papiro, de Ricardo Mack Filgueiras, é um espetáculo a que os pais poderão levar seus filhos na certeza de que as crianças passarão alguns momentos agradáveis. O texto, carregado de humor, conta uma história leve e que ganha certo charme ao ser localizado no antigo Egito. A encenação é eficaz, na maior parte do tempo. Se há momentos em que o ritmo se perde (o solo da escrava) isto não compromete a dinâmica da encenação, visivelmente calcada no aspecto visual e na qual destaca-se a beleza e a comicidade de um “estilo grego”.

Se a coreografia de Ernestina Mack Filgueiras é pobre em Que os Deuses nos Guardem, é expressiva no restante do espetáculo. Assim, baseado em bonitos e estimulantes figurinos (do próprio Ricardo), na música comunicativa de Billy Blanco Jr. (tocada ao vivo) e na coreografia, o diretor soube motivar o público para assistir à sua história. Pena que o cenário não acompanhe a qualidade dos demais elementos, ainda mais quando se sabe que na peça anterior montada pelo grupo O Ponto – Papo de Anjo – a cenografia era um dos aspectos mais expressivos.

Esther Angélica, como Pestépatra, destaca-se num elenco heterogêneo, no qual Ricardo Mack Filgueiras (como Surdônio) e Paulo Dalcol (como pequeno sacerdote) têm atuações também acima da média. Esther Angélica, desde o início, já revela uma espécie de chama interior mais forte, atuando de modo mais vivo que os demais. Timimg, comunicabilidade e expressão corporal são qualidades indiscutíveis da atriz. E, se ela deixasse de fazer óbvias “caras feias para parecer má”, seu trabalho seria ainda bem mais limpo.

Pipocas de Papiro, em cartaz no João Caetano, apesar de ter um título pouco feliz e nada comercial, é um espetáculo alegre e agradável, com uma produção muito bem cuidada.

Cotação: quatro estrelas.