Pinóquio Blat e Gepeto Oristanio: uma admirável versão. Foto: Lau Polinésio

Crítica publicada na Revista Isto É
Por Maria Lúcia Candeias – São Paulo – 21.10.1987

Barra

Pinóquio

Criado no século XIX, pelo italiano Carlo Collodi, num folhetim – precursor do jornal, muito popular na Europa da época, com histórias em série, como as atuais novelas de TV -, Pinóquio obteve um enorme sucesso desde então. Universalizada pelo desenho animado de Walt Disney, essa personagem, cujas mentiras, além de pernas curtas, têm nariz comprido, faz parte da mitologia infantil mundial. A admirável versão do grupo TAPA baseia-se na edição italiana dos 100 anos de Pinocchio e impressiona pela total integração de texto (Renato Icarahy e Eduardo Tolentino) e espetáculo (E. Tolentino). Com a consciência das limitações e riquezas da linguagem teatral, explora-a de modo extremamente poético e criativo, com grande apuro técnico. São qualidades que a tornam obra-prima.

O espectador não encontrará atores fantasiados de bichos, que pretendem ser realistas apesar de inverossímeis. O ótimo elenco se apresenta interpretando diversos papeis ao natural, e detalhes dos excelentes figurinos (Lola Tolentino) os identificam com o gorila, o gato, a raposa. Há cenas inesquecíveis, como a do nascimento de Pinóquio (Ricardo Blat) brotando de uma tora de madeira. Ainda há momentos de beleza no teatro de bonecos de carne e osso, na ilha dos prazeres e na cena onde a baleia engole Gepeto (Giuseppe Oristanio), reproduzida através de recursos cenográficos primorosos e sintéticos (Ricardo Ferreira). Uma montagem que se comunica com as crianças e deslumbra também os adultos.