Pinóquio, em cartaz no Aliança Francesa, peça para toda a família. Foto: Lau Polinésio

Crítica publica em O Estado de São Paulo
Por Tatiana Belinky – São Paulo – 13.06.1987

Vibrante e bem feito

Um Pinóquio carioca, do ótimo Grupo Tapa, baixou no palco do Teatro Aliança Francesa, depois de dois anos em cartaz no Rio de Janeiro com merecido sucesso de crítica e público, com cinco premiações, entre as quais os badalados Molière e Mambembe, e promete um ótimo programa.

Prometendo e cumprindo: o espetáculo é muito bom mesmo. Muito bem produzido, bem pesquisado (o grupo esteve até na Itália, na própria cidade de Pistóia, pátria do famoso bonequinho de pau), rico e caprichado, enquadrando-se entre as raras e verdadeiras superproduções do nosso teatro infantil, o Pinóquio do Grupo Tapa é importante também pelo seu texto, surpreendentemente fiel à história original de Collodi, com todas as suas “violências” e “crueldades” (de gozação e mentirinha) de que as crianças gostam tanto. Como bem os realizadores observam, esse Pinóquio, ainda que muito italiano, é também brasileiro, cheio de humor e ironia, misto de Macunaíma com Commedia Dell´Arte e ópera-bufa. E, em sendo boneco, é muito criança, sem síndrome de Peter Pan, querendo mais é crescer, virar gente, menino de verdade. Como no livro de Collodi, Pinóquio passa por altos e baixos, momentos perigosos e momentos sentimentais, aventuras e desventuras de toda espécie – o que permite um espetáculo vibrante e movimentado, graças à direção altamente profissional, enérgica e espirituosa do autor do texto (junto com Renato Icarahy), Eduardo Tolentino de Araújo.

O espetáculo é também muito bonito e mostra 16 cenários e 70 trajes diferentes, os belos figurinos de Lola Tolentino, no estilo “popular” da Commedia Dell´Arte. E, last but not least, as músicas são de nada menos – Francis Hime. E o elenco é encabeçado por Ricardo Blat – um ator consagrado que, se bem me lembro, estreou com brilho invulgar justamente no teatro infantil, na peça de Ciambroni, Adeus Fadas e Bruxos, uns bons anos atrás – encarnando um Pinóquio para ninguém botar defeito. Em suma, um programa para toda a família, que vale a pena.