A peça adaptada por Walcyr Carrasco: direção e elenco de qualidade com recursos de sobra. Foto: Benedito Salgado

Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 13.03.1987

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Peter Pan, em grande produção

Mais uma atraente montagem com o eterno Peter Pan. Com bons efeitos

A história de Peter Pan, personagem criado por J. Barrie, primeiro num conto, depois numa peça teatral em 1904, e que se tornou popular em todo o mundo, passando para o cinema, televisão, HQ, parece estar em plena moda, não bastassem os livros de Dan Kiley, Síndrome de Peter Pan e Dilema de Wendie, dos mais vendidos na categoria de não ficção. No momento, em São Paulo, temos duas encenações, a do grupo Alma que passou para o Teatro Cacilda Becker, e que já comentamos no Jornal da Tarde, 31.01.1987, numa adaptação de Jurandyr Pereira, e a superprodução do TBC, com adaptação de Walcyr Carrasco, direção de Jacques Lagoa.

Entre nós, a história de Peter Pan é bastante conhecida, especialmente pela difusão através da obra de Monteiro Lobato. Contém elementos que atraem o interesse do público infantil, a mistura adequada da realidade com a fantasia, a criação da Terra do Nunca, região imaginária com fadas, piratas, sereias, índios, para onde se pode escapar mas de onde se deve voltar (como acontece com Wendie e seus irmãos), a possibilidade de voar, sonho da humanidade, enfim, o país da aventura. Para os adultos, a ideia da permanência da criança dentro de nós é sempre atraente, ainda que se possa tornar um desvio psíquico.

A adaptação de Walcyr Carrasco, traz uma redução, ao eliminar os pais de Wendie (marco da realidade) e os índios, conservando, entretanto, os temas essenciais do original e que tornam o texto tão interessante para o público infantil, bem como os elementos de aventura e espaço mais importantes – o que permite um espetáculo rico de incidentes cênicos.

A produção do espetáculo, do TBC, não economizou recursos e Jacques Lagoa – ator conhecido e diretor de teatro para adultos mas que começou fazendo, exatamente, o papel de Peter Pan – aproveitou essas possibilidades ao máximo. Com três cenários teatralistas de fácil mudança, inclusive uma enorme caravela pirata, de Renato Scripilliti, figurinos de Lu Martan, adereços de Roberto Saturnino, com um achado cênico que é a utilização de cores pastéis na realidade e cores vivas no mundo da imaginação, a montagem é visualmente bonita. Alguns recursos técnicos, como o voo de Peter Pan sobre a plateia, resultam em surpreendentes efeitos, que as crianças não deixam de aplaudir. A música de Ney Carrasco e Beatriz Linardi e a coreografia de Rita Malot são outros elementos que contribuem para a excelência do espetáculo. Apenas discordamos da substituição da cena da salvação de Sininho, no original é um envolvente pedido de palmas, que se esvaziou pela escolha de apenas uma criança para dar um beijo na fada, o que frustra todas as outras.

O elenco está todo bem dirigido, com a garra de Fábio Mássimo, a simpatia de Ana Luísa Lacombe, a graciosidade de Lenita Queiróz, a comicidade de Eduardo Silva e Ariel Mosh, os dons canoros de Luciene Adami.