Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 08.01.1976
Pernalonga está mesmo em apuros
O texto de Dino Romano não resiste a qualquer análise. O cenário – também de Dino Romano – é feio, mal acabado e tem a preocupação, não assumida, de tapar buracos. Os figurinos – ainda de Dino Romano – são tristes, com cores pesadas e mal misturadas. E a direção – de Dino Romano, é claro – é tecnicamente falha e criativamente pobre. A primeira conclusão é fácil de ser tirada; talvez Dino Romano tenha algum talento como autor; ou como cenógrafo; ou figurinista. Ou, ainda, como diretor. Mas esse possível talento fica definitivamente enterrado quando ele se propõe a fazer tudo ao mesmo tempo. Dino Romano não consegue aprofundar nenhum de seus trabalhos. Pelo contrário; os resultados deixam sempre a desejar.
Antes de qualquer outro elemento teatral, é no texto que reside à base de uma encenação. Quando o texto é fraco, dificilmente sai um espetáculo bom. E Pernalonga, Um Coelhinho em Apuros traduz, com a máxima fidelidade, todos os chavões existentes na dramaturgia infantil. Vejamos; os personagens se escondem para ouvir conversas; nessas conversas, geralmente, são revelados alguns planos; o estímulo à plateia é na base do diálogo forçado: Tudo bom, criançada? Não ouvi a resposta. Tudo bom? Tá fraco! Vamos de novo: tudo bom, criançada? Tá fraco! e etc,etc; ou, então, esse estímulo vem fantasiado de uma falsa solidariedade: Se ele está dormindo, não vai me ouvir chamar e não vai acordar. Só se vocês me ajudarem. Vamos chamar juntos? Os lugares-comuns prosseguem com o eterno pedido de cumplicidade: Crianças, não contam nada porque é segredo; ou, ainda, com a preocupação educativa; A ambição é uma palavra que nunca deveria existir. O egoísmo nunca deveria existir.
A partir de um texto com tais características, o espetáculo dificilmente sairia bom. E a encenação é, também repleta de estereótipos. É totalmente dispersiva. Dentro dessa situação muito pouco palpável, um elenco passeia totalmente perdido e desorientado. Os atores não sabem usar o corpo e ainda falam com as crianças como se elas fossem débeis mentais.
Mas isso tudo não importa muito. O Grupo Carroussel sabe que tem público certo porque, entre outras coisas, há sorteio de brindes no intervalo; e distribuição de moedas de chocolates para todas as crianças, na saída.