Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 12.09.1976
Pererices do Saci
Num momento em que se coloca a fraca dramaturgia nacional como uma das causas das dificuldades encontradas no desenvolvimento do teatro infantil, Pererices do Saci, de M. Cena tem importância indiscutível, na medida em que demonstra a validade de um caminho pouco percorrido – o do folclore.
Nossas lendas e nossos heróis estão aí, esperando pelos autores (ficando só no folclore, o material de trabalho é vastíssimo; se entrarmos em Monteiro Lobato, então, vai se perceber que esse é um filão que não acaba). O valor de Pererices do Saci, entretanto, não se esgota apenas na preocupação com temas ligados à cultura nacional. O espetáculo apresentado na Escola de Teatro Martins Pena (Rua Vinte de Abril 14 – próximo à Praça da República) é simples, mas realizado com visível preocupação com um trabalho honesto. Tanto do texto de M. Cena como o do espetáculo dirigido por Marcondes Mesqueu não se pode dizer que haja momentos de extremo brilho. Entretanto, tanto no texto como na montagem, fica visível a existência de respeito pelas crianças.
Esperamos que no próximo trabalho do grupo Asfalto Ponto de Partida não sejam mais observadas certas falhas encontradas neste Pererices. Inicialmente, temos um texto que começa com uma boa dinâmica, mas que, gradativamente, começa a se desenvolver de modo muito emperrado, chegando a causar certa monotonia. O autor dedica mais tempo às brincadeiras das crianças que às pererices do saci e, se fosse o contrário, a peça possivelmente apresentaria um interesse muito maior.
Em segundo lugar, que se procure ousar mais no que diz respeito aos cenários e aos figurinos – de longe, o aspecto mais fraco de todo o trabalho. E, finalmente, em terceiro lugar, que se faça uma opção: ou um elenco que saiba cantar ou a montagem de um espetáculo sem canções.
A música de Oswaldo Rosário é gostosa, alegre e comunicativa, contribuindo para “soltar” e integrar o público infantil.
Os atores (exceto nas partes de canto) atuam corretamente, sem grandes voos, mas também sem comprometer. Destaque especial para o ator que faz o Saci, de fácil comunicabilidade e bom timing. Seu trabalho seria ainda melhor se ele não misturasse tanto os dois papéis que representa.
Pererices do Saci, na Martins Pena, é uma alternativa para o público infantil carioca.