Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 30.08.1980

Barra

Escuro e triste

Pena Solta, espetáculo criado e representado pela dupla Ricardo Howat – Gina Paduska, é um ótimo exemplo de boa intenção aliada a um texto confuso e a falta de domínio técnico.

O primeiro problema está na própria estrutura da sala Monteiro Lobato, criada para a apresentação de espetáculos de bonecos que normalmente são mostrados à altura da cabeça dos atores. Dessa forma, o piso da plateia não tem declives, já que tudo se passa no alto. Ricardo e Gina não levaram esse lado em consideração e resolveram fazer um espetáculo onde há inúmeras ações no chão, o que torna a visibilidade quase impossível para os adultos e, evidentemente, muito pior para as crianças. Outro problema que também distancia o espectador é a infeliz iluminação criada, excessivamente escura durante grande parte da montagem. Juntando-se um início demorado e sem ação dramática; um texto que segue excessivamente confuso; a dificuldade de se entender o que os atores falam quando estão com as máscaras; a paupérrima manipulação dos bonecos; o trabalho dos atores nada criativo e sem versatilidade; e um visual carregado e feio, o resultado é uma encenação monótona, levando o interesse do espectador a cair progressivamente. Pena Solta é um espetáculo pra baixo, escuro, monótono e triste.

Por mais paradoxal que possa parecer, acena que obtém o maior interesse da criançada é exatamente a que se encontra totalmente descolada em relação à história de Pena Solta; a troca, com as crianças, das partes e roupas do boneco que se recusa a falar. Aí a luz fica mais clara, a visibilidade melhora e cria-se um elo de comunicação entre palco e plateia. Em compensação, os autores se esquecem totalmente da história que estavam contando e gastam um tempo enorme com uma cena que, se retirada do texto, não faria falta alguma. Depois, o texto se embaralha mais e mais. Há a colocação do conflito mal resolvido da banana – apenas para que Pena Solta possa ser reincluído na história. E, a seguir, penetra-se no “país do patrão”, onde Pena Solta é escravizado (que cena enorme e repetitiva) e a maioria silenciosa resolve agir, colocando o patrão contra a parede – tudo dentro de um total esquematismo de texto e de direção e sempre muito mal resolvido tecnicamente.

O que pretende o texto? Mostrar o aprendizado do viver, mostrar que cada um deve crescer aprendendo a andar com as próprias pernas. Acho que todos concordamos com isso. Difícil é concordar com o espetáculo criado para passar essas ideias para a plateia.

Pena Solta pode ser visto em dois locais: com entrada paga, na Sala Monteiro Lobato; e, de graça, no Teatro de Fantoches do Aterro do Flamengo (em frente à Rua Tucumã), aos sábados e domingos, sempre às 10h30m.