Pelego e Porca Prenha na mata do Pequi: no Glauce Rocha

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 29.05.2005

 

 

Barra

Folclore honesto

Tom popular é o maior mérito de peça de Os Zoneiros

Pelego e Porca Prenha na Mata do Pequi é um espetáculo do grupo Os Zoneiros, de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, que está em temporada no Teatro Glauce Rocha, no Centro. Trata-se de um trabalho comprometido com as raízes culturais de seus realizadores, cuja maior contribuição é o tom popular de sua encenação, que remete ao teatro de rua. Seus atores se utilizam de uma expressão cênica despojada, calcada na linguagem dos palhaços dos pequenos circos.

Mas o espetáculo apresenta um problema recorrente no teatro, principalmente o destinado às crianças: a indefinição da proposta cênica. Sem estrutura dramatúrgica, o texto acaba deixando a desejar.

A trama tem início com as crianças Pelego e Porca Prenha fugindo da vacinação obrigatória. Este é o pretexto para colocá-los dentro da mata, onde encontram personagens como Curupira, Boca de Sapo e Pisadeira. Porém, a natureza mítica dessas figuras folclóricas não é suficientemente delineada.

A história dos personagens é narrada por eles mesmos e pelos meninos. Nada é mostrado. Trata-se, pois, de narrativa oral cênica no palco e não de drama. Há pouquíssima ação – e não se questionam aqui tendências do teatro contemporâneo, mas sim o resultado da proposta, que é transformar fábula em teatro.

Como o “motivo” que impulsiona a história – a fuga da cidade, com medo da vacina – não se desenvolve, o espetáculo se esvai e termina de forma abrupta. O cenário, de Alexandre Nunes, é um dos elementos mais bem resolvidos imensos bambus feitos de tecido transparente, sustentados por aros, remetem criativamente à imagem de uma floresta.

Os figurinos dos personagens folclóricos, criados por Marco Antônio Lucas, são também criativos, embora não inovadores, como o da Pisadeira, feito com chapéus de palha desestruturados. Os recursos da iluminação, assinada por Anderson Barnabé, são limitados. A trilha sonora, executada ao vivo por Filipe Belmot, é coerente com o conceito do espetáculo, mas sua realização é deficiente, já que carece de sincronia com a ação dos atores.

Alexandre Nunes e Rogério Silva são atores populares que precisam se desenvolver tecnicamente, mas que mantêm a ingenuidade de um trabalho guiado pela intuição. Mesmo com problemas de dicção e emissão, conseguem empatia com o público. Yuri Velansky é um ator com algum recurso, mas sem a ingenuidade que domina o espetáculo.

A direção de Alberto Damit e Yuri Velansky acaba se escorando no talento cômico popular e espontâneo dos atores. Pois, limitada pela falta de ação dramática, não cria uma ação física dinamizadora nem um desenho cênico com significado, o que transforma o espetáculo em uma lenta e longa contação de histórias.

Pelego e Porca Prenha na Mata do Pequi tem como valor maior o fato de artistas populares de uma região distante do eixo cultural do Rio terem conseguido chegar ao grande centro com seu espetáculo honesto.