Personagens folclóricos têm figurino muito bem elaborado

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 04.06.2005

 

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Pelega e Porca Prenha na Mata do Pequi: Peça que estimula a curiosidade 

Tema proporciona bela experiência

o ponto de partida para a trama de Pelega e Porca Prenha na Mata do Pequi, espetáculo encenado pela Cia. dos Zoneiros no Teatro Glauce Rocha, é o medo de dois meninos – mais especificamente, o medo de tomar vacina. A partir daí, Anderson Bernardes Sanches desenvolve o texto da peça que promove o encontro do público infantil com alguns personagens do nosso folclore.

Os três atores da companhia começam o espetáculo apresentando uma espécie de cortejo brincante, composto por cantorias e jogos da cultura popular brasileira. Logo em seguida, as crianças entram em contato com o conflito dos dois meninos, divididos entre tomar uma vacina ou fugir para a mata. Como o espírito de aventura fala mais alto, eles decidem correr riscos, explorando um ambiente ainda desconhecidos para eles.

Trama oferece rico painel de personagens do folclore

No desenrolar da trama, Pelega vai contando ao público as aventuras dele e de Porca na mata. E esse tipo de narrativa, em que os personagens falam mais do que agem, acaba cansando as crianças em alguns momentos do espetáculo. Talvez o maior mérito do texto de Bernardes Sanches esteja na apresentação ao público de figuras do nosso folclore, como o Curupira, o guardião das matas; os dos animais que têm dentes verdes e cabelos vermelhos; a Boca de Sapo, uma mulher negra vestida de baiana que não tolera a presença de crianças em seu quintal; e a Pisadera, uma velha que assombra os que dormem de barriga cheia.

Alexandre Nunes, que apresenta um bom trabalho corporal, consegue se desdobrar entre seus três personagens, Porca Prenha, Festeiro Vermelho e Boca de Sapo, sem dificuldades. Rogério de Silva, o Pelega, consegue arrancar risos da plateia com suas divertidas expressões faciais, mas precisa melhorar sua dicção, já que muitas vezes não se entende o que ele diz em cena. Yuri Velansky, que vive o Festeiro Azul, a Pisadera e o Curupira, também não encontra maiores problemas para compor seus personagens.

O cenário de Alexandre Nunes é o destaque da ficha técnica. Com pouquíssimos recursos, e contando somente com o auxílio da boa iluminação de Anderson Barnabé, ele consegue recriar no palco o ambiente da mata. O figurino de Marco Antonio Lucas também é cuidadoso, principalmente nos trajes dos personagens folclóricos.

A direção de Alberto Damit e Yuri Velansky procura valorizar os aspectos pitorescos
do texto, transformando Pelega e Porca Prenha na Mata do Pequi num espetáculo curioso para o público infantil. O contato com os exóticos personagens que povoam o imaginário dos habitantes do interior do Brasil é sempre uma experiência diferente para as crianças que vivem a realidade.