Priscilla Duarte é a única atriz em cena para
interpretar os personagens do espetáculo Pedro e o Lobo


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 27.04.1996

 

 

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Duelo entre teatro e dança fascina o público no Delfin

Pedro e o Lobo é uma peça musical para orquestras criada pelo compositor russo Serguei Prokofiev em 1936, a partir dos contos populares de sua terra. Com uma história bastante simples, o compositor se utiliza dos instrumentos musicais para dar vida a cada um dos personagens. Assim, Pedro é representado pelas cordas, seu avô pelo fagote,o pato pelo oboé, o passarinho pela flauta, o gato pelo clarinete e o lobo por três trompas. Ainda no enredo, os caçadores têm o som das madeiras e os disparos de seus fuzis são feitos pelos tímpanos e pelo bumbo.

A peça musical de Prokofiev tem inspirado muitas versões da obra, na literatura, no cinema e no teatro para crianças. Encenada por atores convencionalmente representando todos os personagens, ou pelos manipuladores de títeres, a peça exerce sobre o público imbatível fascínio. Pedro e o Lobo, que está em cartaz no Teatro Delfin, é uma nova versão da história, adaptada e dirigida por Ricardo Gomes para uma única atriz em cena, Priscilla Duarte, que, utilizando as técnicas corporais do teatro-dança clássico indiano, se divide nos diversos personagens da história.

Ricardo Gomes constrói um espetáculo intimista para ser visto pelo olhar atento de um espectador específico, à procura de um teatro que ultrapasse os limites do entretenimento. O que raramente é o caso de crianças muito pequenas, já familiarizadas com o personagem principal e seus coadjuvantes em outras versões da obra. Montado com extremo cuidado e acabamento de qualidade – os cenários de Doris Rollemberg propositalmente de pouca interferência e a luz artesanal de Antônio Guedes, e o uso da lanterna mágica para ilustrar os instrumentos personagens da história -, o espetáculo tem a maior atenção da plateia adulta, que se encanta com a novidade em cena.

Priscilla Duarte, mesmo com registro vocal baixo e comunicação tímida no texto falado, ganha extremo vigor na representação quando usa a técnica do teatro-dança. Com gestual irrepreensível, faz a overture da peça com todos os personagens em cena, delineando-se com exatidão nos momentos de maior interferência. Com um figurino básico e muito bem aproveitado, transforma-se rapidamente em Pedro, no avô, em Sônia, no pato e no gato, que contracenam com o passarinho e o lobo do fantoche de luva. A música original de Prokofiev, acompanha cada personagem com exatidão, sem chegar a frente da representação.

Pedro e o Lobo é um espetáculo de detalhes bem cuidados e técnica apurada. Sua comunicação com o público a que se destina deveria ser revista, para que, enfim, possa ser apreciado como deve.

Cotação: 2 estrelas (Bom)