Crítica publicada no Jornal O Globo, Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 01.09.1996

 

Pedro e o Lobo: O ator Luís Salém é o trunfo da peça

Boa diversão num espetáculo correto

Logo de saída, é bom avisar que o espetáculo Pedro e o Lobo, em cartaz no Teatro dos Quatro, tem pouco a ver com o Pedro e o Lobo clássico criado pelo compositor Prokofieff com o objetivo de ensinar música às crianças. Portanto, quem decidir entrar no teatro deve estar ciente de que o principal, ali, não é a melodia –retrabalhada e funcionando apenas como trilha incidental – e sim o texto. Que, aliás, foi adaptado pela autora Denise Crespun e teve a sua primeira montagem em 1986, quando ganhou o prêmio Mambembe de melhor espetáculo. Agora o trio formado por Denise, pelo diretor Beto Brown e pelo ator Luís Salém decidiu remontar a peça.

Do elenco original, o único que ficou foi Salém. E, no decorrer do espetáculo, compreende-se o motivo. Completamente à vontade no papel de bobo da corte de uma rainha um tantinho perua – soberana que é a maior mudança incluída no texto por Denise – Salém segura a peça nas mãos e dirige o público com segurança e talento para onde quer. Com bom humor, incentiva, por exemplo, a plateia a enxergar no palco cenários mais elaborados, já que os criados por Afonso Tostes são praticamente inexistentes.

Com igual vivacidade, é capaz de trocar ideias com as crianças na plateia e não se furta a chamar a atenção dos miúdos quando necessário. O ator é um trunfo que ultrapassa os limites do texto e da direção, ambos corretos.

Excluída a parte musical, a história da peça é basicamente a mesma, em que Pedro (o garoto Sérgio Hondjakoff), desobedece o avô e vai para a floresta com seus amigos (uma pata sonsa, um gato arisco e um pássaro). Lá, ele se torna um herói ao matar um lobo feroz e é condecorado pela rainha, vivida com perfeição por Scarlet Moon. A atriz se revela o par perfeito para o humor do bobo criado por Salém.